Família descobre que homem estava vivo na hora do enterro
Mulher, que desmaiou, ficou feliz ao ver o marido, mas chamou a polícia devido ao erro
Vania Cunha
Rio - O que seria um fim de ano triste para a
família de Jair da Costa, 58 anos, com a notícia de sua morte, virou um
misto de espanto e revolta. Horas antes do enterro, marcado para a manhã
de ontem no Cemitério de Inhaúma, parentes descobriram que ele, na
verdade, continuava vivo e internado na Coordenação de Emergência
Regional da prefeitura, no Centro. A família, que foi avisada do suposto
falecimento pelos médicos, acusa a unidade de saúde de erro e foi
registrar o caso na delegacia.
Jair, que sofre de hipertensão e já teve um
derrame, foi internado no dia 31. Cerca de 24 horas depois, quando foi
visitar o marido, Maria Aparecida, de 66 anos, e seu filho, Júlio César
Farias de Barros, foram informados sobre a morte. “Passei mal, desmaiei e
tive que ser medicada. Não me deixaram vê-lo, foi o pior dia da minha
vida”, contou a idosa.
Com a guia de falecimento e certidão
de óbito em mãos, Júlio começou a organizar o velório. “Não tínhamos
dinheiro. Pegamos empréstimo com amigos. Fizemos ‘vaquinha’ na família
para pagar a taxa de R$ 333 do funeral. Passei três dias no desespero,
sem dormir nem comer”, afirmou Júlio, ainda perplexo com a notícia da
quase-morte do padrasto.
Indignada com o erro da unidade, família de paciente chamou a polícia e foi registrar caso na delegacia
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
A confusão só veio à tona quando
parentes já aguardavam na capela do cemitério a chegada do corpo, que
seria enterrado sem velório. Uma sobrinha de Jair, que foi à unidade de
saúde para reconhecer e liberar o corpo, percebeu que o morto em questão
— que tinha sobre o peito uma identificação com o mesmo nome de Jair —
não era seu tio.
Indignada, a família chamou a polícia. “Senti
um alívio por vê-lo vivo, mas ele não merece passar por isso. Brincaram
com a vida dele. Quem está ali trabalhando tem que rasgar seu diploma”,
revoltou-se Júlio. Vítima não era diabética
Até a noite de ontem, Jair continuava internado
na Coordenadoria Regional de Saúde da Frei Caneca. Ainda de acordo com
os parentes, depois que descobriram que o corpo não era dele,
encontraram Jair sentado em uma cadeira, aparentemente sem assistência.
“Funcionários nos chamaram e disseram que foi
um erro, que meu padrasto poderia sair. Como se ele estava ali todo
jogado numa cadeira, nem falava e sem que nenhum médico o atendesse?”,
questionou Júlio, ainda com a papelada do enterro nas mãos e a roupa que
vestiria no padrasto para o funeral. Na certidão de óbito, constava que
a causa da morte era uma complicação decorrente do diabetes, doença
que, segundo a família, Jair nunca teve.
“Meu coração está despedaçado. Saber que
omarido morreu e, depois, que está vivo por um erro, não é uma coisa
fácil de compreender. Nunca poderiam ter feito isso com ele”, desabafou
Maria.
Até a noite de ontem, a família continuava na 5ª DP (Centro), tentando fazer o registro de ocorrência do caso. Sindicância para investigar
A assessoria da Secretaria municipal de Saúde
informou que houve um problema no sistema da Coordenação Regional de
Saúde da Frei Caneca no dia 31, o que acarretou numa falha ao passar os
registros manuais para o banco de dados da unidade. Ainda de acordo com a
secretaria, foi aberta uma sindicância para apurar o caso e os
responsáveis pelo erro serão punidos.
No entanto, a assessoria informou que o
documento sobre o óbito foi emitido porque, em um primeiro momento, o
enteado de Jair teria reconhecido o corpo.
A secretaria ainda lamentou o caso e disse que
vai prestar assistência à família, inclusive, o reembolso das despesas
pagas com o funeral que não aconteceu. Os parentes pretendem entrar com
uma ação judicial contra a unidade.
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