Sebastião Nery
RIO – Na primeira semana de abril de 1964, um magote de militares fardados e estrelados chegou ao edifício Ultramarino, no Rio, ao lado da Basílica da Candelária, esquina das avenidas Rio Branco com Getulio Vargas, então sede da Petrobras (hoje é na Avenida Chile). Era o general Olimpio Mourão Filho e sua trupe que vinham militarmente ocupar a Petrobras, em nome do “Comando da Revolução”.
Derrubado o presidente João Goulart no dia 31 de março, o marechal Osvino Ferreira Alves e sua diretoria tinham sido afastados da empresa por ordem das forças golpistas vitoriosas e o advogado Roberto Toledo ficara provisoriamente como administrador-geral. Era uma situação caótica. Prisões e cassações se multiplicavam nas diversas unidades da empresa em diferentes Estados. No Rio, na administração central, importantes servidores de nível gerencial eram afastados pelos dedos-duros de plantão.
Chegando de Juiz de Fora na madrugada de 1 de abril, o general Mourão imaginou que ia assumir o ministério da Guerra. Mas, lá chegando, já encontrou o general Costa e Silva sentado na cadeira, mãos para o alto: – Mourão, sou o mais velho. O chefe sou eu. Vá para a Petrobras.
MOURÃO
Mourão foi. Nesse cenário surrealista, o bravo Doutor Toledo recebe o pelotão do general Mourão. Arthur da Costa e Silva, ministro da Guerra (era essa designação à época) ordenara que o general Mourão deveria ser empossado novo presidente da Petrobras. Era “uma ordem revolucionária”. Experiente e conhecedor da legislação interna da empresa, o advogado Toledo comunica ao general que a posse não poderia se efetivar naquele instante. Seria necessária a convocação, por edital, da Assembleia Geral para que o processo de posse se tornasse legal.
O general Mourão Filho acatou o argumento e voltou com sua turma para esperar a publicação que lhe daria a Petrobras e a legitimidade no cargo. Não ganhou nem uma nem outra. Cada general mordia seu pedaço de poder.
Nomeado e empossado presidente da Republica o solerte, ambicioso e esperto general Humberto Castelo Branco, um de seus primeiros atos foi vetar o nome de Mourão para a Petrobras e escolher o respeitado marechal Ademar de Queiroz para a direção da estatal. No que acertou. Sua administração foi um marco positivo e consolidador da autonomia gerencial, imprimindo um forte sentido nacionalista. Enfrentou e derrotou a tese do ministro Roberto Campos, do Planejamento, que desejava dividir a Petrobrás em várias unidades autônomas.
TOLEDO
O advogado Roberto Toledo foi por décadas a memória viva da história do petróleo brasileiro. Aposentou-se próximo dos 80 anos. Foi assessor jurídico de todos os presidentes da Petrobras ao longo dos anos 50, 60, 70, 80 e 90. Uma longevidade alicerçada na competência jurídica e conhecimento técnico e histórico da estrutura organizacional da empresa. Um exemplo de servidor público e republicano.
O brilhante professor e economista Helio Duque, também ele patrimônio da Petrobras, três vezes deputado pelo MDB e PMDB do Paraná, relembra a historia e não perde a esperança no futuro da empresa.
GRAÇA
No Senado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, passou por um constrangimento ao dizer que seu marido ‘não tem negócios” com a Petrobrás e ser desmentida pelo senador Mario Couto, do PSDB do Pará, que lhe mostrou uma “Folha de S. Paulo” de 2010, quando a empresa C. Foster, de Colin Vaughan Foster, tinha “20 dispensas de licitação para fornecer componentes eletrônicos”. E “desta vez ela silenciou” (Folha”).
Não precisava ter silenciado, se conhecesse as “Confissões” do incomparável Santo Agostinho. Bispo de Hipona (hoje Annaba, na Argélia), ele fugia a um cerco policial quando o barco em que estava como único passageiro foi interceptado. Perguntaram-lhe:
- O bispo Agostinho passou por aqui?
- Não.
Liberado, o barqueiro estava escandalizado:
- Senhor bispo, o senhor, que é um santo, mentiu.
- Não menti. Ele me perguntou se eu “havia passado”. Eu disse que não. “Estava passando”. É diferente. Não menti. Fiz uma “restrição mental”.
Dona Graça, como Santo Agostinho, seu marido “não tem” mesmo contratos com a Petrobras. “Teve”. É diferente. Na próxima, dona Graça, quando for falar à CPI, leia Santo Agostinho. Quem vai ficar constrangido e calado é o Mario Couto.
O PRIMO
Sabem por que o PT se lambuzou tanto com o doleiro Youssef? Pensaram que ele é primo da Dilma Roussef. O som é o mesmo.
sebastiaonery@ig.com.br
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