Segundo inquérito da
Operação Lava Jato, Alberto Youssef aparece em conversas discutindo
acordo que renderá mais de R$ 100 milhões à empreiteira Constran
MARCELO ROCHA E MURILO RAMOS (Revista Época)
No início das
investigações que culminaram na Operação Lava Jato, deflagrada há um
mês, a Polícia Federal imaginava que o doleiro Alberto Youssefestaria
envolvido apenas com lavagem de dinheiro e evasão de divisas, práticas
pelas quais já havia sido acusado. À medida que a investigação avançava,
a PF descobriu a atuação do doleiro em outras frentes de negócios. Uma
delas surpreendeu os agentes federais: Youssef aparece em meio a
conversas telefônicas tratando da negociação do pagamento de precatórios
(dívidas antigas) do governo do Maranhão à empresa Constran. A dívida,
que supera R$ 110 milhões, refere-se a serviços de terraplanagem e
pavimentação da BR-230 contratados na metade da década de 1980.
ÉPOCA teve acesso a um email (leia
documento acima) interceptado pela Polícia Federal que mostra
envolvimento de Alberto Youssef na negociação. No dia 10 de dezembro do
ano passado, o diretor financeiro da UTC, empresa que controla a
Constran, Walmir Pinheiro, encaminha uma mensagem para Youssef e para o
diretor financeiro da Constran, Augusto César Ribeiro Pinheiro, cujo
título era “Precatório MA”. Walmir Pinheiro parabeniza os dois pela
“concretização do acordo com o gov. MA”. E ainda enaltece a conquista em
razão da dificuldade em alcançá-la: “sei perfeitamente o quanto foi
duro fechar esta operação, foram quase 6 meses de ida e vinda”, afirma
Pinheiro. A dívida do Maranhão com a construtora estava na Justiça há
mais de 20 anos. No e-mail, Walmir refere-se a Youssef como “Primo”,
apelido amplamente utilizado por pessoas próximas ao doleiro. Na
mensagem, foram copiados ainda o presidente da UTC Engenharia, Ricardo
Pessoa, e o diretor da Constran e ex-ministro de Infraestrutura do
governo Fernando Collor de Mello, João Santana, apelidado de João
Bafo-de-Onça, personagem de Walt Disney.
Walmir comemora o recebimento da primeira
parcela e aguarda a liberação de outras 23 prestações. No dia 26 de
dezembro de 2013, duas semanas após a mensagem enviada a Youssef, o
governo do Maranhão depositou R$ 4,7 milhões na conta da Constran.
Segundo o portal da transparência do governo maranhense, o depósito está
relacionado a um acordo judicial “devidamente aprovado pela governadora
do Estado do MA (leia documento abaixo)”. Em 4 de fevereiro e 18 de
março, o governo fez outros dois depósitos, que somaram R$ 9,4 milhões.
No dia da Operação Lava Jato, Youssef foi
preso pela Polícia Federal em São Luís. Procurado pela reportagem de
ÉPOCA, o advogado do doleiro, Antônio Augusto Figueiredo Bastos, afirma
que Youssef não tem relação com os dirigentes da Constran nem com as
negociações da dívida maranhense. Afirma, ainda, que seu cliente fazia
viagens ao Maranhão para prospectar negócios no ramo da hotelaria. Por
meio de nota, o governo do Maranhão afirma que o acordo para pagar os
precatórios da Constran gerou economia de R$ 29 milhões ao estado e está
respaldado juridicamente. Afirmou, ainda, “não ter conhecimento de
contato de seus membros com dirigentes da Constran ou UTC”. ÉPOCA
conseguiu localizar Augusto Cesar Ribeiro Pinheiro, um dos que receberam
email junto com Youssef. Perguntado sobre detalhes do email e se
conhece o doleiro, Augusto César disse: “me manda um email. Estou em
viagem e o custo de deslocamento (ligação) é alto”. A reportagem
insistiu nas perguntas, mas Augusto César não quis responder. Procurada
há uma semana, a Constran não respondeu aos pedidos de informação.
De acordo com a Polícia Federal, o elo
entre Walmir Pinheiro e Youssef extrapola a questão dos precatórios
maranhenses. No dia 08 de agosto do ano passado, Walmir encaminhara um
email para Youssef pedindo que mandasse cerca de US$ 5 mil para sua
mulher, Luciana de Almeida, nos Estados Unidos. No email, Walmir afirma
que Luciana estava num hotel de Miami próximo ao banco para o qual
Youssef deveria remeter os recursos. Walmir encaminha, inclusive, uma
cópia do passaporte de sua mulher para Youssef a fim de facilitar a
remessa do dinheiro para os Estados Unidos.( Do Blog do Garrone/JP)
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