quarta-feira, 28 de maio de 2014

Conversa mole de “legado” da Copa e as ilusões perdidas

Chico Maia
O Tempo
“Caminhando pelas ruínas de Confins, aeroporto de Belo Horizonte, me deparo com um arremedo de livraria improvisado sob escombros”. Com essa frase, o músico Tony Bellotto iniciou a sua coluna dominical no jornal “O Globo”, no dia 11 de maio, quando faltava apenas um mês para a abertura da Copa do Mundo no Brasil. Um mês depois que a presidente Dilma dera entrevistas dizendo que “todos os aeroportos” das 12 cidades-sede estavam prontos para a “Copa das Copas”, como ela mesma batizou.
O título dessa coluna de Bellotto era “Chuva de latrinas”, e, no último parágrafo, ele dizia que Paschoal Fromm prepara novo livro com esse nome, em que “…o autor narra parábola sobre um país fictício em que latrinas começam a despencar do céu, vitimando cidadãos inocentes…”, diz o titã Bellotto. E conclui: “Só mesmo um gênio criativo como Fromm para imaginar situação tão absurda”.
Ironia sobre o inacreditável episódio de privadas jogadas do alto do Estádio Arruda, em Recife, quando uma delas matou um torcedor que saía do jogo entre Santa Cruz e Paraná pela Copa do Brasil.
Um senhor ministro!
Perguntado sobre a repercussão da violência do Brasil no exterior, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, disse que “os estrangeiros precisam saber que, caso fiquem longe das favelas pacificadas, não caminhem nas ruas à noite, não carreguem equipamentos eletrônicos, andem com pouco dinheiro e não ofereçam resistência caso sejam abordados por bandidos, nosso país sem dúvida é muito menos perigoso que a Síria, o Iraque e o Afeganistão”.
Babacas!
No dia 16 de maio, em conversa com blogueiros amigos, o ex-presidente Lula chamou de “babaca” quem cobra metrô para os estádios: “…nós nunca reclamamos de ir a pé (ao estádio). Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jegue, vai de qualquer coisa. A gente está preocupado? Ah não, porque agora tem que ter metrô até dentro do estádio. Que babaquice que é essa?”.
Fazer o quê? Há quantos anos ele não anda de ônibus ou dirige o próprio carro?
Sonho alto
Em 2007, quando o Brasil comemorou a vinda da Copa do Mundo, pensei: Oba! Finalmente Belo Horizonte ganhará um metrô decente, o Anel Rodoviário será reformado, o Rodoanel sairá do papel, o aeroporto de Confins estará no mesmo nível de alguns dos melhores do mundo, as BRs 381 e 040 serão duplicadas, e as nossas telecomunicações funcionarão! Era sonhar demais?
Porém, faltando algumas semanas para a abertura da competição, o que ouvimos dos nossos governantes e do mentor de tudo, junto com o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi isso. E as minhas últimas ilusões foram para o saco. Minas, então! Dançou feio: dos 12 aeroportos das cidades-sede, oito não ficaram prontos. Confins entre eles.
Prateleira de baixo
Poucos dias antes de Colômbia x Grécia, o primeiro jogo da Copa no Mineirão, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que dos 12 estádios, em seis a internet não funcionaria direito. Adivinhem se o nosso estádio, erguido dentro do figurino e prazo Fifa, sonhando em ser palco da abertura, estava entre estes “internet meia-boca”? Claro, junto com os de Natal, Recife, Curitiba, São Paulo e Fortaleza. Mas já dizia o imperador romano Titus Flavius Vespasianus, por volta de 69 D.C., que havendo pão e circo o povo fica contente e sossegado!
 
 

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