sábado, 3 de maio de 2014

Operários descartáveis

Carlos Chagas
Redução no Imposto de Renda, aumento no Bolsa-Família. Adiantou o súbito pacote de bondades da presidente Dilma, em termos de sucessão presidencial? Só as próximas pesquisas revelarão. Mais significativa do que as medidas anunciadas no pronunciamento feito pelo Dia do Trabalho, porém, foi a informação da iminência de nova medida provisória autorizando empresas em dificuldades a reduzir pela metade a jornada de trabalho e os salários de seus operários.
Trata-se de iniciativa injusta e temerária, dentro da estratégia de agradar a todos desagradando cada um. A desculpa é evitar demissões em massa no reino das montadoras, mas vá a chefe do governo convencer o trabalhador de que ele pode sustentar-se com a metade do que recebe. Ou perguntar o que fará com as forçadas horas de folga.
Se as montadoras andam com os pátios cheios, sem conseguir vender os carrões produzidos, terá sido por falta de planejamento. Era possível prever a retração do mercado. Até parecia natural, diante de uma superprodução artificial e gananciosa. Programaram mal, dentro de uma publicidade exagerada. Agora, querem mandar a conta para os operários e são atendidas pelos tecnocratas de plantão. Como são todas multinacionais, por que não se valem dos lucros auferidos em outros países? Já ouviram falar no sistema de vasos comunicantes?Por que insistem nesse abominável capitalismo sem riscos, ou melhor, com risco apenas para seus funcionários?
O pior é que o governo se deixa chantagear. Cede à primeira ameaça de desemprego quando na realidade deveria resistir e enfrentar a chantagem. Será que os diretores e altos executivos das montadoras terão seus salários e prêmios anuais reduzidos pela metade?
Nada de novo se passa debaixo do sol, entre nós. A indústria automobilística brasileira vem sendo privilegiada desde sua criação, nos tempos de Juscelino Kubitschek. Gera empregos, é verdade, mas deveria obrigar-se a zelar por eles, num estado de bem-estar social. O operário continua descartável.
Anuncia-se estarem as centrais sindicais de acordo com a iminente medida provisória. Acomodadas já estão, faz tempo. Até seu patrono maior, do qual não se ouviu até agora uma palavra de protesto. Também, não vive mais de salário…
 
 

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