Fábio Frabrini e Fábio Brandt
Estadão
Executivos da empresa holandesa SBM Offshore
tiveram acesso a informações sigilosas sobre negócios da Petrobrás.
Acusado de pagar propina a empregados da estatal, o ex-representante da
empresa no Brasil Julio Faerman repassou a altos funcionários na Europa o
conteúdo de documentos internos sobre questões estratégicas da
companhia petrolífera.
Conforme relatório de investigação da
Petrobrás sobre o caso, obtido pelo Estadão, em 10 de junho de 2009
Faerman enviou para o diretor da SBM Michael Wyllie um e-mail com o
conteúdo de documento interno que solicitava à Diretoria Executiva da
Petrobrás autorização para contratar serviços na unidade de liquefação
de gás natural embarcada (GNLE) em dois blocos do Pré-Sal na Bacia de
Santos.
Em outro e-mail, intitulado “Confidencial”,
de 28 de outubro de 2010, Faerman informou a Francis Blanchelande, chefe
da área operacional da SBM, decisão da Diretoria Executiva de contratar
uma embarcação da empresa McDermott. Na mensagem, anexou um documento
interno da área de Exploração e Produção de Petróleo da Petrobrás,
responsável pelos contratos de afretamento.
Em 18 de abril de 2011, o executivo
Jean-Philippe Laures enviou ao CEO da SBM, Tony Mace, e outros dois
altos funcionários da empresa o Plano Diretor do Pré-Sal, aprovado pela
Diretoria Executiva da empresa havia um mês.
RELATÓRIO FINAL
As trocas de mensagens foram selecionadas
pela SBM e apresentadas à comissão destacada pela Petrobrás para
investigar as denúncias de suborno. No relatório final dos trabalhos, a
estatal registra a existência de “informações confidenciais” entre
documentos internos da SBM, “ainda que não haja evidências de que tenham
sido obtidas por meio de pagamentos a empregados da Petrobrás”. “Não
foi possível identificar o responsável por fornecer informações contidas
nos documentos internos”, concluiu a equipe.
Embora seja o autor de alguns dos e-mails, em
depoimento, Faerman disse não saber como documentos confidenciais da
estatal poderiam estar na SBM e negou que passava à empresa informações
privilegiadas obtidas na Petrobrás.
Funcionários da SBM, que também abriu
investigação sobre as denúncias, descreveram Faerman como um
representante que tinha contatos “high level” (de alto nível) à equipe
de investigação da Petrobrás. Entre os diretores mais procurados,
constam José Antônio de Figueiredo, de Engenharia, Tecnologia e
Materiais; e Renato de Souza Duque, que chefiou a área de Serviços até
abril de 2012. Este último foi visitado ao menos 30 vezes por
representantes da SBM entre 2005 e 2011, embora tenha relatado, em
entrevista, a “baixa frequência dos contatos”. “(Duque) Informou que
recebia muitas visitas de empresas, mas que da SBM foram poucas”, diz
relatório da estatal.
Procurada, a SBM não se pronunciou sobre o
vazamento de informações da Petrobrás. À equipe da estatal, relatou ter
detectado “red flags” (bandeiras vermelhas) nos negócios de Faerman, a
exemplo dos valores altos pagos, a título de “comissões” pela obtenção
de contratos, às empresas dele no paraíso fiscal das Ilhas Virgens
Britânicas. Contudo, informou não ter encontrado prova de suborno na
companhia petrolífera brasileira.
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