quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A vez delas



Primeira série focada no universo dos transgêneros aponta tendência norte-americana em retratar a comunidade LGBT. No Brasil, a luta é pela diversidade das personagens


Laverne Cox está produzindo dois documentários sobre transgêneros
Laverne Cox está produzindo dois documentários sobre transgêneros
 
 
A sexualidade e as polêmicas questões relacionadas à identidade de gênero ganham espaço nas telinhas. Produções nacionais e internacionais estão colocando em primeiro plano as dificuldades de quem se identifica com uma orientação sexual diferente da que nasceu. Nos Estados Unidos, a série Transparent, sobre um transgênero, teve estreia elogiada pela crítica na semana passada. Por aqui, a aposta também vale. Mas, contrariando a tendência dos EUA, os personagens transexuais se movem em espaço restrito.

Aos 27 anos, Carol Marra construiu uma rápida trajetória no mundo artístico. A transexual mineira tem ganhado espaço nas telas brasileiras enquanto divide campanhas publicitárias de moda mundo afora. Mas, para ela, ainda é pouco. Apesar de ganhar papel importante na primeira temporada de Psi, da HBO, na qual viveu a transexual Patrícia no ano passado, e também em Segredos médicos, do Multishow, a atriz defende a diversificação dos personagens para os transgêneros no Brasil.
“Infelizmente, ainda falta um pouco de sensibilidade na hora da seleção”, lamenta. “Me sinto lisonjeada em interpretar uma transexual, mas também desafiada a interpretar algo fora do meu universo”, diz ela, que não descarta interpretar homens em trabalhos futuros.

Nos Estados Unidos, o seriado Orange is the new black, que conta a vida de Piper Chapman, também discutiu a questão com a história de Sophia Burset, uma transexual que consegue o direito de cumprir pena em um presídio feminino. Apesar de não apontar a série como uma referência pessoal, Carol reconhece a importância da produção para a comunidade LGBT. “O preconceito, de qualquer forma, surge da falta de informação”, defende ela. “Com a sexualidade, isso não é diferente. A partir do momento em que você coloca na tela, dá margem para discussão em vários ambientes, levando a informação de forma direta”.

Quebrando tabus

Laverne Cox, de Orange is the new black, fez história ao ser a primeira transexual indicada a um Emmy Awards. Agora, ela se aprofunda na defesa dos transgêneros e produz dois documentários sobre a causa ainda neste ano. O primeiro, intitulado Laverne Cox Presents: The T Word, com lançamento previsto para esse mês, acompanha sete jovens norte-americanos com idades entre 12 e 24 anos que enfrentam as dificuldades do transtorno de gênero.

Um dos casos de destaque no filme é o do ex-atleta Kye Allums, que, apesar de ter nascido mulher, revelou se identificar como homem enquanto integrava um time feminino da liga de basquete universitário americano. Agora, já formado pela George Washington University, em Washington, Allums atua como ativista para os direitos LGBT e se tornou um defensor da causa dos transgêneros.

Ambientada com as prisões femininas na elogiada interpretação de Sophia Burset, Cox enxergou na história de CeCe McDonald, uma jovem, negra e transexual que dá titulo ao segundo projeto, mais do que meras semelhanças. Estudante de moda, CeCe se viu em meio a um pesadelo quando foi acusada de homicídio ao se defender de um homem que a atacava em meio à xingamentos homofóbicos. “Poderia muito facilmente ser eu naquela situação”, comentou a atriz em entrevista à Rolling Stone norte-americana.

Enquanto aguardava o julgamento, CeCe passou 19 meses em um prisão masculina em Minesotta. A jornada até a libertação, no ano passado, é o mote para Free CeCe, ainda sem previsão de estreia.

Inspiração estrangeira
Nos Estados Unidos, a primeira série focada só no universo transgênero acaba de ser lançada pela Amazon, em formato que, no Brasil, tornou-se popular com a Netflix. A aposta da empresa confirma um mercado aberto, que se dedica cada vez mais a explorar as questões LGBT, e, em especial, os transgêneros.

Transparent conta a história de Mort (Jeffrey Tambor) um pai de três filhos, divorciado, que decide revelar, aos 70 anos, que se identifica como mulher. Fugindo de situações espalhafatosas, o drama revela um lado sensível e desconcertante de uma família judia que luta para entender as escolhas do pai. Em cena, os personagens dão o tom com diálogos sinceros que exemplificam o entendimento das mudanças. “Então você está dizendo que vai se vestir de mulher o tempo todo agora?”, pergunta um dos filhos ao personagem principal. “Não, querido. Durante toda a minha vida eu venho ‘me vestindo’ de homem. Essa sou eu”, rebate o personagem de Tambor.

O piloto, disponibilizado na semana passada para os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, teve recepção aplaudida pela crítica estrangeira. As ramificações do roteiro, escrito por Jill Solloway, e as interpretações do elenco, que reúne nomes como Melora Hardin (The office) e Gaby Hoffmann (Girls), foram alguns dos destaques apontados.

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