Projeto artístico realizado através da Aldeia Sesc Guajajaras promove intervenção artística nas ruas da capital. O trabalho pretende chamar a atenção das pessoas para diversos problemas sociais como a violência e consumismo exacerbado.
André Serra/O Imparcial
O grupo percorreu as principais ruas do Centro de São Luís |
“Esse trabalho é realizado pelo Sesc Nacional com parceria dos filiados regionais e a idéia é interferir no cotidiano das pessoas e, de alguma forma, apontar para as pessoas a importância da cultura. Outro aspecto que a obra aborda é a crítica em relação ao diversos problemas sociais como a violência e consumismo exacerbado.”, explica Carolina Aragão, técnica de cultura do Sesc.
O espetáculo “Cegos” é composto por profissionais do teatro que saem pelas ruas vendados e cobertos de argila para exemplificar, através da arte, as problemáticas do cotidiano. O diretor da companhia, Marcos Bulhões, desenvolveu pesquisas sobre o assunto, criou a atração e trouxe sua companhia dentro do projeto do Sesc. Essa ação pretende produzir, além da formação de novos artistas, um híbrido de diversas linguagens artísticas que estão na linha tênue entre o protesto social e as artes visuais.
O ato da intervenção cultural urbana envolve uma característica contemporânea e com isso espera levantar a reflexão sobre o mundo moderno e as inúmeras dificuldades existentes na cidade. “Não é fácil interpretar um tipo de obra desse nível e esse grupo realmente nos surpreendeu, pois a qualidade do trabalho está impecável. Contamos com uma turma bem variada, são cinco atores de outra cidade e 30 pessoas de São Luís. Entre os participantes estão estudantes de teatro, professores, artistas e inclusive um dos componentes da equipe é deficiente visual. Aguardamos que as pessoas sejam instigadas a se perguntar o porquê do espetáculo e observarem que a arte está entre nós, o tempo todo.”, completa Carolina.
São Luís não foi escolhida para sediar o trabalho por qualquer motivo. A organização do Sesc relatou que a capital maranhense respira arte e cultura permanentemente. “Através dos casarões e monumentos arquitetônicos da cidade, é fácil observar a beleza artística que São Luís conserva. São Luís é mais que uma cidade comum, é uma personificação perfeita do que significa a arte e sua história”.
A apresentação caminhou por vários pontos de São Luís. Saíram numa caminhada que percorreu do Palácio dos Leões até a Praça Deodoro e chamou a atenção de muitos populares. Sobre a encenação, o vendedor Josué Alves se disse orgulhoso das expressões culturais da capital maranhense. “Uma das coisas que mais me orgulho em São Luís é a expressão da arte dentro de nossa cidade. É muito interessante ver que existem pessoas que trabalham em prol da cultura e exercem uma excelente crítica social através dela, comentou ele”.
“Cegos”: Uma ideia inovadora
A apresentação foi inspirada no quadro A Parábola dos Cegos, de Pieter Bruegel (1580), onde os próprios cegos conduziam outros cegos, cada qual tentando encontrar algum apoio para avançar pelo caminho.
O grupo foi barrado em alguns lugares e sofreram para continuar com a apresentação em determinados pontos do trajeto. A segurança responsável pelo Palácio Dos Leões, sede do governo do estado do Maranhão, chegou a bloquear o trabalho dos artistas. “Cegos” é uma crítica à condição sufocante do mundo corporativo. Após a proibição, a companhia se dirigiu até a igreja da Sé e caminhou em meio ao centro comercial de São Luís até concluir apresentação em frente ao Liceu Maranhense.
A
intervenção utilizou o mesmo figurino usado por onde tem sido montado,
com personagens vestidos com trajes sociais (terno, gravata e tailleus e
terninhos), cobertos de argila (fazendo ligação com a lama e sujeira).
Os artistas também tinham suas mãos pintadas de vermelho, promovendo um
verdadeiro choque visual para quem caminhava por onde a companhia
passou.
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