quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Cegos fazem mobilização em São Luis

Grupo paulista promove protesto social nas ruas de São Luís
Projeto artístico realizado através da Aldeia Sesc Guajajaras promove intervenção artística nas ruas da capital. O trabalho pretende chamar a atenção das pessoas para diversos problemas sociais como a violência e consumismo exacerbado.
André Serra/O Imparcial


 
O grupo percorreu as principais ruas do Centro de São Luís (Honório Moreira/OIMP/D.A Press)
O grupo percorreu as principais ruas do Centro de São Luís
A 9ª Aldeia Sesc Guajajaras de Artes traz até a capital maranhense, além de shows, espetáculos e mostra de cinema, ações realizadas para formar novos artistas, estudiosos e interessados. São oficinas, mesas redondas, workshop e minicursos que visam promover o intercâmbio cultural entre artistas locais, regionais e nacionais que participam deste grande evento artístico. Durante toda a semana, diversos trabalhos voltados para o lado cultural estão sendo produzidos. Caminhando para as apresentações finais, nesta quarta-feira (29), um grupo de intervenção cultural urbana apresentou a encenação intitulada de “Cegos”, realizada pelo grupo Desvio Coletivo, de São Paulo, que visita São Luís através do projeto Palco Giratório.

“Esse trabalho é realizado pelo Sesc Nacional com parceria dos filiados regionais e a idéia é interferir no cotidiano das pessoas e, de alguma forma, apontar para as pessoas a importância da cultura. Outro aspecto que a obra aborda é a crítica em relação ao diversos problemas sociais como a violência e consumismo exacerbado.”, explica Carolina Aragão, técnica de cultura do Sesc.

O espetáculo “Cegos” é composto por profissionais do teatro que saem pelas ruas vendados e cobertos de argila para exemplificar, através da arte, as problemáticas do cotidiano. O diretor da companhia, Marcos Bulhões, desenvolveu pesquisas sobre o assunto, criou a atração e trouxe sua companhia dentro do projeto do Sesc. Essa ação pretende produzir, além da formação de novos artistas, um híbrido de diversas linguagens artísticas que estão na linha tênue entre o protesto social e as artes visuais.

O ato da intervenção cultural urbana envolve uma característica contemporânea e com isso espera levantar a reflexão sobre o mundo moderno e as inúmeras dificuldades existentes na cidade. “Não é fácil interpretar um tipo de obra desse nível e esse grupo realmente nos surpreendeu, pois a qualidade do trabalho está impecável. Contamos com uma turma bem variada, são cinco atores de outra cidade e 30 pessoas de São Luís. Entre os participantes estão estudantes de teatro, professores, artistas e inclusive um dos componentes da equipe é deficiente visual. Aguardamos que as pessoas sejam instigadas a se perguntar o porquê do espetáculo e observarem que a arte está entre nós, o tempo todo.”, completa Carolina.

São Luís não foi escolhida para sediar o trabalho por qualquer motivo. A organização do Sesc relatou que a capital maranhense respira arte e cultura permanentemente. “Através dos casarões e monumentos arquitetônicos da cidade, é fácil observar a beleza artística que São Luís conserva. São Luís é mais que uma cidade comum, é uma personificação perfeita do que significa a arte e sua história”.

A apresentação caminhou por vários pontos de São Luís. Saíram numa caminhada que percorreu do Palácio dos Leões até a Praça Deodoro e chamou a atenção de muitos populares. Sobre a encenação, o vendedor Josué Alves se disse orgulhoso das expressões culturais da capital maranhense. “Uma das coisas que mais me orgulho em São Luís é a expressão da arte dentro de nossa cidade. É muito interessante ver que existem pessoas que trabalham em prol da cultura e exercem uma excelente crítica social através dela, comentou ele”.

“Cegos”: Uma ideia inovadora
A apresentação foi inspirada no quadro A Parábola dos Cegos, de Pieter Bruegel (1580), onde os próprios cegos conduziam outros cegos, cada qual tentando encontrar algum apoio para avançar pelo caminho.

O grupo foi barrado em alguns lugares e sofreram para continuar com a apresentação em determinados pontos do trajeto. A segurança responsável pelo Palácio Dos Leões, sede do governo do estado do Maranhão, chegou a bloquear o trabalho dos artistas. “Cegos” é uma crítica à condição sufocante do mundo corporativo. Após a proibição, a companhia se dirigiu até a igreja da Sé e caminhou em meio ao centro comercial de São Luís até concluir apresentação em frente ao Liceu Maranhense.
 
A intervenção utilizou o mesmo figurino usado por onde tem sido montado, com personagens vestidos com trajes sociais (terno, gravata e tailleus e terninhos), cobertos de argila (fazendo ligação com a lama e sujeira). Os artistas também tinham suas mãos pintadas de vermelho, promovendo um verdadeiro choque visual para quem caminhava por onde a companhia passou.

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