NATUZA NERY E ANDRÉIA SADI
FOLHA DE SÃO PAULO
(BRASÍLIA) –
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará interferir mais no
governo Dilma Rousseff e, em conversas recentes, disse pela primeira vez
a aliados que será candidato ao Planalto em 2018.
Diversos interlocutores
consultados pela Folha confirmaram ter ouvido o recado do petista.
Alguns, inclusive, afirmam que a manifestação foi feita no domingo (26),
depois de as urnas terem confirmado a vitória de Dilma.
Internamente, o PT já trata a
candidatura de Lula como algo oficial. O petista terá 73 anos em 2018, e
aliados ponderam que uma série de variáveis pode fazer com que mude de
opinião mais à frente.
O próprio ex-presidente já
disse a aliados que não sabe como estará sua saúde daqui a quatro anos.
Após deixar a Presidência, em 2011, ele se curou de um câncer na
garganta.
Por meio de sua assessoria,
Lula soltou uma nota em que diz: “No último domingo, dia da eleição,
quando perguntado sobre 2018, declarei que, completando 69 anos, minha
única expectativa para daqui a quatro anos é estar vivo.”
De olho na sucessão futura,
aliados afirmam que o ex-presidente precisará atuar de forma mais
efetiva para evitar que a petista reproduza erros cometidos no primeiro
mandato. Entre eles, o distanciamento dos movimentos sociais, o parco
diálogo com empresários e o excesso de centralização nas ações.
Nos primeiros quatro anos, o
petista deu conselhos à presidente, mas foi pouco ouvido. Agora, será
preciso inverter essa lógica para poder pavimentar sua candidatura. No
cálculo interno, se Dilma fizer uma administração impopular a partir de
janeiro, sua pretensão pode ser frustrada.
Dois exemplos de sugestões
ignoradas por Dilma no passado: substituição do ministro da Fazenda,
Guido Mantega, para dar um choque de confiança no mercado. E a remoção
do secretário do Tesouro, Arno Augustin, por sintetizar em sua opinião a
imagem negativa da equipe econômica na área fiscal.
No atual mandato, Lula quer ser mais ouvido quando em situações de crise e dificuldades com o Congresso.
Durante a campanha, a
presidente afirmou que daria todo apoio ao padrinho se ele quisesse
voltar. No início do segundo turno, interlocutores de ambos os lados
notaram distanciamento entre eles. Lula só entrou de cabeça na reta
final da eleição.
Tudo indica, afirmam aliados,
que a dinâmica da relação mudará agora. Dilma, dizem assessores, sabe
que o antecessor fará queixas públicas se não for ouvido.
A disposição do ex-presidente de disputar 2018 conta com um estimulo nada irrelevante: o desejo da mulher, Marisa Letícia.
A articulação que pedia o
retorno do ex-presidente para a disputa de 2014 foi forte no primeiro
semestre de 2013, mas acabou abafada no encontro nacional do PT, em
maio. Seus principais defensores eram empresários descontentes com o
estilo de Dilma e petistas que perderam espaço na atual gestão.
O PT também fará mais
pressões. Quer ser mais ouvido na definição dos novos nomes do governo,
principalmente na do novo ministro da Fazenda, e participar da definição
de propostas como a reforma política.
Em entrevista nesta terça (28), Dilma disse que “o que o Lula quiser ser, eu apoiarei”.
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