Vicente Nunes
Correio Braziliense
A surpreendente decisão do Banco Central de aumentar a taxa básica de juros (Selic), de 11% para 11,25% ao ano, recebeu o aval do Palácio do Planalto. Ao traçar um detalhado quadro da economia para Dilma Rousseff, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, enfatizou o elevado risco de a inflação estourar o teto da meta neste ano, de 6,5%, devido à disparada do dólar, que está encarecendo, sobretudo, os bens duráveis, que usam componentes importados.
A ação do BC, segundo interlocutores de Dilma, faz parte da estratégia da presidente reeleita de dar um choque de credibilidade no governo. Despida da fantasia de candidata, a petista se convenceu de que deveria começar agora o segundo mandato, sob o risco de a confiança na economia afundar de vez e comprometer o crescimento dos próximos anos. “Sabemos que 2015 já está perdido. Mas podemos criar um ambiente mais amigável para o capital, favorecendo os investimentos produtivos. Sem isso, o PIB (Produto Interno Bruto) continuará patinando”, diz um dos mais próximos assessores de Dilma.
Há outra justificativa forte para o governo agir: o risco de o desemprego aumentar. Os empresários já indicaram ao Planalto que não aguentarão mais um ano de estagnação sem demitir. Uma onda de demissões colocaria em risco a sensação de bem-estar que foi preponderante para a reeleição da petista nas regiões de renda mais baixa. Por causa da perversa combinação de inflação alta e baixo crescimento nos últimos anos, a mobilidade social estancou. E, em algum momento, isso começará a mexer com a satisfação dos que sancionaram mais quatro anos de mandato para o PT.
ANTÍDOTO PARA O DÉFICIT?
O governo acredita que, entre os investidores, o aumento dos juros — que deve continuar em dezembro e em janeiro, pelo menos — funcionará como uma espécie de antídoto aos péssimos números das contas públicas que serão divulgados entre hoje e sexta-feira. Assim como o BC está resgatando a política monetária como instrumento efetivo de combate à inflação, a meta é de que também a política fiscal saia do limbo. O problema é que o estrago já feito é tão grande que ainda levará tempo para que o Tesouro Nacional possa jogar a favor do controle de preços. “Essa será a missão do próximo ministro da Fazenda”, destaca um integrante da equipe econômica.
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