Carlos Chagas
Durante séculos, e até
hoje, trava-se a discussão sobre se Deus criou primeiro o ovo ou a
galinha. Pois outro debate transcendental acaba de abrir-se: o país já
estava dividido ou dividiu-se com as recentes eleições presidenciais?
Apesar do milagre da
unidade nacional praticado pelos portugueses, enquanto a América
Espanhola fracionou-se numa série de nações, a verdade é que divididos
estamos desde Pedro Álvares Cabral. Sempre houve o Brasil dos pobres e o
Brasil dos ricos, como o país amazônico e o país dos pampas. As
comparações não teriam fim, chegando até o confronto entre Flamengo e
Fluminense.
Sendo assim, não nos
dividimos pela primeira vez quando metade do eleitorado preferiu Dilma e
a outra metade, Aécio. Apenas, desta vez, acentuaram-se as diferenças,
havendo até os que pintam um Brasil de vermelho e outro de azul. São
rescaldos de uma campanha acirrada, agressiva e mal-educada.
O que não dá para aceitar é
que os derrotados, no caso, o PSDB, exijam junto ao tribunal Superior
Eleitoral uma auditoria sobre a apuração dos votos na eleição
presidencial. Os tucanos recorrem precisamente à instituição que
regulamentou e promoveu a eleição. Ingenuidade igual raras vezes se
constata. Até prova em contrário, as eleições eletrônicas foram
aprovadas pela unanimidade dos partidos, dos candidatos e da opinião
pública. Ninguém contestou a forma de aferição da vontade popular.
Porque perderam, terão eles o direito de exigir a auditoria dos que
oficializaram a derrota? Constitucionalmente, podem exercer esse
direito, mas pela lógica e o bom-senso, como contestar junto à
cozinheira o sabor da refeição, imaginando que ela concorde com as
reclamações?
Dividido o Brasil sempre
esteve e estará, mesmo cabendo aos derrotados a prerrogativa teórica da
contestação. Muitas vezes saltam aos olhos distorções flagrantes no
resultado das tertúlias, até quando o juiz errou e deu a vitória ao
Fluminense em vez do Flamengo. Justiça integral, só quando São Francisco
de Assis entrar em campo vestido de árbitro, ou melhor, na hora em que
algum partido lançá-lo candidato a presidente da República.
SEMANA QUENTE
Segunda-feira reúne-se o
PT, menos para celebrar a vitória de Dilma, mais para traçar a
estratégia para conseguir governar nos próximos quatro anos. Dois dias
depois, será a vez do PSDB. Outros partidos, como o DEM, já sondaram
suas bancadas a fim de definir os novos rumos. Todos, enfim,
organizam-se em reuniões mais do que necessárias.
Menos o PMDB, por razão
muito simples: o maior partido nacional encontra-se em assembleia
permanente. Não perdeu nem perde tempo em formular suas exigências para
permanecer no poder. Por isso assusta o palácio do Planalto com a
candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Por quantos
ministérios trocaria a ascensão de um desafeto da presidente Dilma a
posto tão importante?
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