segunda-feira, 3 de novembro de 2014

São Francisco de Assis candidato a presidente?

Carlos Chagas
Durante séculos, e até hoje, trava-se a discussão sobre se Deus criou primeiro o ovo ou a galinha. Pois outro debate transcendental acaba de abrir-se: o país já estava dividido ou dividiu-se com as recentes eleições presidenciais?
Apesar do milagre da unidade nacional praticado pelos portugueses, enquanto a América Espanhola fracionou-se numa série de nações, a verdade é que divididos estamos desde Pedro Álvares Cabral. Sempre houve o Brasil dos pobres e o Brasil dos ricos, como o país amazônico e o país dos pampas. As comparações não teriam fim, chegando até o confronto entre Flamengo e Fluminense.
Sendo assim, não nos dividimos pela primeira vez quando metade do eleitorado preferiu Dilma e a outra metade, Aécio. Apenas, desta vez, acentuaram-se as diferenças, havendo até os que pintam um Brasil de vermelho e outro de azul. São rescaldos de uma campanha acirrada, agressiva e mal-educada.
O que não dá para aceitar é que os derrotados, no caso, o PSDB, exijam junto ao tribunal Superior Eleitoral uma auditoria sobre a apuração dos votos na eleição presidencial. Os tucanos recorrem precisamente à instituição que regulamentou e promoveu a eleição. Ingenuidade igual raras vezes se constata. Até prova em contrário, as eleições eletrônicas foram aprovadas pela unanimidade dos partidos, dos candidatos e da opinião pública. Ninguém contestou a forma de aferição da vontade popular. Porque perderam, terão eles o direito de exigir a auditoria dos que oficializaram a derrota? Constitucionalmente, podem exercer esse direito, mas pela lógica e o bom-senso, como contestar junto à cozinheira o sabor da refeição, imaginando que ela concorde com as reclamações?
Dividido o Brasil sempre esteve e estará, mesmo cabendo aos derrotados a prerrogativa teórica da contestação. Muitas vezes saltam aos olhos distorções flagrantes no resultado das tertúlias, até quando o juiz errou e deu a vitória ao Fluminense em vez do Flamengo. Justiça integral, só quando São Francisco de Assis entrar em campo vestido de árbitro, ou melhor, na hora em que algum partido lançá-lo candidato a presidente da República.
SEMANA QUENTE
Segunda-feira reúne-se o PT, menos para celebrar a vitória de Dilma, mais para traçar a estratégia para conseguir governar nos próximos quatro anos. Dois dias depois, será a vez do PSDB. Outros partidos, como o DEM, já sondaram suas bancadas a fim de definir os novos rumos. Todos, enfim, organizam-se em reuniões mais do que necessárias.
Menos o PMDB, por razão muito simples: o maior partido nacional encontra-se em assembleia permanente. Não perdeu nem perde tempo em formular suas exigências para permanecer no poder. Por isso assusta o palácio do Planalto com a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Por quantos ministérios trocaria a ascensão de um desafeto da presidente Dilma a posto tão importante?
 
 

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