Folha de São Paulo
– As mudanças feitas pela presidente Dilma Rousseff em seu ministério
deixaram contrariado seu antecessor e padrinho político, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, ao reduzir sua influência no governo e
desalojar alguns de seus fiéis colaboradores.
Aliados do ex-presidente, que governou o
país de 2003 a 2010, dizem que ele considerou excessivo o poder
conferido ao ministro da Casa Civil, o petista Aloizio Mercadante, na
nova configuração do governo e na articulação das mudanças na equipe.
Na avaliação dos lulistas, Mercadante
sonha em concorrer à Presidência nas eleições de 2018 e vale-se de sua
proximidade com Dilma para evitar a ascensão de outros petistas ao
centro do poder.
Aliados de Lula apontam como exemplo a
indicação do governador da Bahia, Jaques Wagner, para o desenxabido
Ministério da Defesa. Os lulistas preferiam que Wagner ocupasse uma
posição com maior visibilidade política.
“Mercadante é o general. Comanda a
equipe. E tem que trabalhar com os coronéis”, diz o presidente do
Instituto Lula, Paulo Okamoto, numa alusão à concentração de poder nas
mãos do ministro.
A equipe que acompanhará Dilma em seu segundo mandato ainda está
incompleta. Com os 13 nomes indicados na terça (23), a presidente já
anunciou 17 dos 39 ministros que tomarão posse com ela na quinta-feira
(1º).
O PMDB ficou com seis ministérios, um a
mais do que tem hoje. O PT perdeu o Ministério da Educação e não terá
controle sobre outras áreas consideradas estratégicas para o futuro do
partido, como Cidades e Transportes.
Aliados de Lula dizem que o único nome
que ele fez questão de escalar foi o do novo ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, confirmado por Dilma com o futuro titular da Fazenda,
Joaquim Levy, economista de perfil conservador cuja escolha contrariou o
PT.
Lula também sugeriu a mudança do ministro
das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para as Comunicações.
Segundo petistas, foi o próprio Berzoini que pediu para deixar o Palácio
do Planalto, trocando a articulação política pelas Comunicações.
A saída de Berzoini é certa, mas sua
indicação para a nova pasta ainda não foi confirmada. Com a saída do
chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, outro
lulista, o ex-presidente ficará pela primeira vez sem ninguém de sua
confiança na cozinha do Planalto.
Em conversas recentes, Lula chegou a
reclamar da indefinição sobre o Ministério do Trabalho, que atualmente é
controlado pelo PDT e onde os petistas querem emplacar o sindicalista
José Lopez Feijóo, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
SOB MEDIDA
Em reunião na noite de terça, Dilma
ofereceu o Ministério do Trabalho ao presidente nacional do PDT, o
ex-ministro Carlos Lupi, e apresentou como alternativa para o partido a
Previdência Social, hoje com o PMDB.
Lupi disse que a tendência do PDT é
manter o atual ministro do Trabalho, Manoel Dias, no cargo. “Quando o
sujeito senta naquela cadeira, pensa que é feita sob medida, como
sapato”, disse Lupi, que foi afastado do ministério no início do governo
Dilma acusado de desvios em convênios feitos pela pasta.
Lula também ficou incomodado com a
escolha de críticos de seu governo para dois ministérios importantes: o
governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), que irá para a Educação, e a
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), futura ministra da Agricultura.
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