Carlos Chagas
Arrisca-se a morrer de um
ataque de bocejos quem permanecer, no PT, confiando nas promessas da
presidente Dilma. Como aconteceu na reunião do Diretório Nacional do
partido, em Fortaleza, no final da semana que passou, a
primeira-companheira inundou a plateia com chavões de mudanças sociais
cada vez mais ousadas. Parecia sobrinha do Lenin, tanto ao referir-se
aos últimos quatro anos quanto aos próximos. Em vez de arrancar aplausos
generalizados, porém, inaugurou um festival de imensos bocejos.
Porque os petistas
conformaram-se com as notícias de que Joaquim Levy seria ministro da
Fazenda, Katia Abreu, da Agricultura, Armando Monteiro, do
Desenvolvimento, e Henrique Alves, da Previdência, além da certeza de
que PR, PP, PSD, PDT e PTB não ficariam fora do ministério.
Todo esse conjunto, além de
outras nomeações previstas, indica de forma inexorável o recuo
definitivo do governo até as trincheiras da extrema direita. Tudo ao
contrário da pregação de campanha da então candidata e, até mesmo, de
suas atuais definições retóricas. Numa palavra, embromação. Na verdade, o
segundo mandato prenuncia submissão aos postulados neoliberais e aos
seus agentes. Mais uma vitória dos mesmos de sempre, anunciando aumento
de impostos sobre a classe média, jamais dos potentados. Além de
predomínio do agronegócio diante das pequenas propriedades, dos
benefícios aos usineiros e do predomínio cada vez maior da previdência
privada sobre a previdência pública. A conclusão é de que o PT, coitado,
acabou no Irajá. Termina num imenso bocejo…
COMEÇANDO DO MARCO ZERO
Entre tantas sugestões e
nenhuma perspectiva de sucesso, a reforma política continua onde sempre
esteve: no marco zero. Dúvidas inexistem de que o número de partidos não
será reduzido, que o voto distrital é sonho de noite de verão, que as
doações de empresas nas campanhas políticas continuarão indo muito bem,
obrigado, que os suplentes de senador não serão extintos e quantas
propostas a mais permanecerão como prática de se enxugar gelo.
Uma mudança, porém,
torna-se viável: a transferência das posses dos novos presidentes da
República, governadores e prefeitos, desse absurdo dia primeiro de
janeiro, seja para dez dias antes ou dez dias depois. Tratou-se de um
erro flagrante da Assembléia Constituinte de 1988 a fixação da data. Não
se trata de aceitar que ilustres convidados estrangeiros faltem às
cerimônias, por conta das festas de passagem do ano em seus países. Mais
importante é verificar o estado de espírito com que a população saudará
seus novos governantes, depois de uma noite no mínimo mal dormida,
quando não marcada por vibrações etílicas. Os costumes, diziam os
antigos, devem preceder as leis…
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