Carlos Chagas
Ao tomar posse na presidência da República, em janeiro de 1951, eleito pelo voto direto da população, no plenário do Palácio Tiradentes, no Rio, Getúlio Vargas jurou cumprir a Constituição. Não ficou nisso. Na calçada havia sido montado um palanque, para que ele falasse a milhares de trabalhadores lá reunidos: “Hoje, estais no governo. Amanhã, sereis o governo.”
Em janeiro de 2003, empossado como o primeiro operário que ocuparia a presidência da República, 52 anos depois, o Lula exaltou o fato de estar se iniciando no Brasil o governo dos trabalhadores. Mais ou menos, porque além dos programas sociais de caráter assistencialista, também foi o governo da continuação do neoliberalismo, das privatizações e até do mensalão. A partir de 1964 haviam sido suprimidos dezenas de direitos trabalhistas antes criados por Vargas, imaginando-se que o Lula iria restabelecê-los, a começar pela estabilidade no emprego. Não quis, ou não conseguiu, mas o que acontece hoje, quando assume outro mandato o segundo governo dos trabalhadores?
Dilma Rousseff inaugura mais quatro anos no poder sob a égide de novas supressões de direitos trabalhistas. Acaba de cortar pela metade o abono salarial, o seguro desemprego, o auxilio doença, as pensões por morte do cônjuge e até benefícios a pescadores impedidos de pescar. Demonstra a falência do governo dos trabalhadores, jogando sobre eles a fatura do combate a crises econômicas. Esperar o quê, nos próximos quatro anos, senão mais supressão de direitos, cortes nos projetos sociais, aumento de juros e desemprego?
Não se espante o trabalhador se lhe forem garfados férias, décimo terceiro, horas extras, vale-transporte e vale-alimentação. De governo dos trabalhadores passamos para o governo contra os trabalhadores. Quando desfilar em carro aberto pela Esplanada dos Ministérios, hoje à tarde, imaginará trabalhadores naqueles que eventualmente venham a aplaudi-la? Ou pelegos pagos pelo seu partido? A presidente descumpre os ideais um dia sonhados. Em vez de impulsionar conquistas, coleciona retrocessos. Logo irá colher fracassos. -
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