Revista Veja
O governo do Maranhão vai encaminhar ao Ministério Público um relatório em que responsabiliza a ex-governadora Roseana Sarney
(PMDB) no esquema de pagamento de precatórios à empresa Constran,
investigado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. Elaborado
pela Comissão de Investigação instituída pelo governador Flavio Dino
(PCdoB) no primeiro dia de trabalho, o documento trará provas de que o
acordo não trouxe qualquer vantagem para o Estado. Oficialmente, o
governo de Flavio Dino afirmou que as investigações ainda estão em
andamento.
Por meio de escutas, os investigadores da Lava Jato descobriram que o doleiro Alberto Youssef, pivô do petrolão, negociava
o pagamento de precatórios do governo do Maranhão à Constran. A dívida
era de 113 milhões de reais e dizia respeito a serviços de terraplanagem
e pavimentação da BR-230 contratados na década de 1980. Em um e-mail
obtido pela Justiça, Walmir Pinheiro, da UTC Engenharia, comemora o
pagamento da primeira parcela do precatório e resume: “Agora é torcer
para que o Maranhão honre com as demais parcelas”. Meire Poza,
ex-contadora de Youssef, afirmou em depoimento à PF em agosto passado
que o valor negociado pelo chefe em nome de Roseana foi de 6 milhões de reais.
O nome da ex-governadora aparece no
escândalo desde o início da operação policial, em março do ano passado.
Conforme mostrou VEJA, além das negociações para o pagamento da dívida
judicial com a Constran, Roseana Sarney foi citada como beneficiária de
propina no acordo de delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa. VEJA também revelou que o braço direito
de Youssef, Rafael Ângulo Lopez, foi pelo menos três vezes ao Maranhão
para entregar propina. Colou ao corpo 300.000 reais em cada embarque.
Um dos indícios de irregularidades
apontado pela comissão de Dino é uma ação rescisória proposta pelo
Ministério Público do Maranhão, anterior ao acordo entre o governo
estadual e a construtora. A recomendação foi desconsiderada pelo próprio
MP do Estado quando a negociação foi fechada. O órgão é comandado pela
procuradora-geral de Justiça Regina Rocha, irmã do atual deputado
federal Hildo Rocha (PMDB), secretário de Cidades do governo Roseana
Sarney.
Quando o caso veio à tona a Procuradoria
Geral do Estado do Maranhão (PGE) reagiu e, em nota oficial declarou
regular a negociação dos precatórios. “O Estado do Maranhão não realizou
qualquer acordo com o senhor Alberto Youssef”, dizia o documento. Na
mesma época, em entrevista ao Jornal Nacional, Roseana também
negou as acusações: “Nós só fizemos o que a Justiça mandou, e com a
anuência do Ministério Público e do Poder Judiciário”, disse a
ex-governadora. No dia seguinte à declaração, o Tribunal de Justiça do
Maranhão veio a público negar que tenha determinado o pagamento da
dívida.
Diante das denúncias, desde agosto do ano
passado está suspenso o pagamento das parcelas da dívida,
como determina liminar da juíza Luiza Madeiro Neponucena, da 1ª Vara da
Fazenda Pública.
Em seu acordo de delação premiada, o
doleiro Alberto Youssef disse que o precatório estava sendo negociado
por 40 milhões de reais pelo então chefe da Casa Civil do Estado do
Maranhão, João Abreu, e pela contadora de Youssef na época, Meire Poza.
Pelo acordo, o valor do precatório seria parcelado em 24 prestações,
João Abreu receberia 3 milhões de reais de comissão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário