sexta-feira, 20 de março de 2015
As sandálias da humildade, no exemplo do Papa e de Mujica
Sandra Starling
O Tempo
Não vou descrever nada do que todos viram pela TV, escutaram nas rádios ou leram em jornais, seja sobre as manifestações do dia 13, seja sobre as de domingo. Em resumo: panelaços em relação às falas presidenciais ou de ministros, faixas pedindo o afastamento de Dilma (por impeachment ou mediante intervenção militar), “fora PT” e repúdio a parlamentares de variada origem que queriam fazer uso da palavra. No dia 13, sindicalistas lutando por reivindicações antigas, algumas entregues a Dilma em ato com a presença de Lula em abril de 2010. Poucas bandeiras de apoio à presidente.
A crise econômica é grave, e a política, também.
Embora não tenha apoiado Dilma, não compartilho de ideias de impeachment nem, evidentemente, de intervenção militar. Mas algo precisa ser feito, e não mais adiantam vagas promessas como Constituinte, plebiscito sobre reforma política e coisas que tais. Soube que até Joaquim Levy anda falando em taxação de grandes fortunas. Já expus também meu pensamento sobre o caso das pensões – é necessário, sim, rever casos aberrantes como o de viúvas que têm herança sólida em bens imóveis e em aplicações financeiras e que ainda acumulam pensões de INSS ou de serviço público exercido pelo falecido.
O critério não pode ser o da idade da pensionista, pois muitas delas nada têm e muitas vezes nem podem trabalhar porque ficam empencadas de filhos para criar. E, no que concerne ao seguro-desemprego, é possível fazer uma boa triagem quanto a quem está sendo beneficiário e, em hipótese alguma, aplicar regras iguais e lineares. Aprendi há muito tempo que igualar desiguais é a pior forma de justiça.
ATITUDES SIMBÓLICAS
Além de medidas econômicas como as acima descritas, é evidente que o momento exige atitudes simbólicas. Menos que vir à televisão em rede para pedir desculpas, penso que Dilma deveria, na prática, demonstrar que também está fazendo sacrifícios: por exemplo, de onde moro, ouço quase diariamente o ronco do helicóptero levando-a até a Base Aérea. Por que não abolir o uso desse meio caro de transporte? Aliás, os que não conhecem não imaginam o cortejo pomposo que sai do Palácio da Alvorada em direção ao Palácio do Planalto. São inúmeros carros, alguns com sirenes, e até ambulância, como se a presidente fosse ter um “piripaque” em 5 minutos de traslado. O povo precisa ver alguém vivendo com simplicidade para aceitar compartilhar sacrifícios. Os exemplos de Mujica no Uruguai e do próprio papa Francisco poderiam servir-lhe de motivação.
Não foi à toa que nas manifestações os detentores de cargos públicos foram hostilizados. Parece que nenhum deles se deu conta de que passaram dos limites com auxílios-moradia, aumento salarial no apagar das luzes do ano passado no Congresso, reivindicação de passagens para familiares. Tudo isso soa como um tapa na cara de quem está tendo de apertar o cinto e cortar na carne o que já estava acostumado a ter.
Sem falar, é claro, nos 39 ministérios inoperantes…
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