É impressionante. Ao invés de lutar internamente pela união do PT e tentar salvar o partido de sua pior crise, o ex-presidente Lula está fazendo exatamente o contrário, lavando a roupa suja em público, como se dizia antigamente. Na semana passado, mandou gravar e vazar para O Globo uma série de críticas duríssimas contra a presidente Dilma Rousseff e seus principais ministros, em declarações feitas no Instituto Lula a um grupo de religiosos da Igreja Católica.
Ainda não satisfeito, na segunda-feira aproveitou outro evento do Instituto Lula, para afirmar em público que seus colegas de legenda “só pensam em cargo, em emprego, em ser eleito”, proclamando que o PT estaria envelhecido e teria perdido a utopia.
Quem viu o ex-presidente falar ou leu as declarações dele não entendeu nada, porque todos sabem que as imagens de Lula e do PT se confundem. Ele foi o criador e condutor da legenda. Desde a fundação do PT, Lula despontou como seu maior líder, é como se o partido pertencesse a ele.
De repente, porém, o ex-presidente passa a se comportar de forma surrealista, como se não tivesse nada a ver com o PT ou com Dilma Rousseff, que ele diz já estar no “volume morto”, junto com ele próprio.
COMPORTAMENTO ESTRANHO
O comportamento de Lula realmente causou estranheza e estupefação. Seria caso de internação ou de absoluta falta de caráter, que cada um tire sua conclusão. Mas o fato é que não se tratou de um arroubo, num momento de desabafo e de desespero. A nova postura de Lula é apenas uma estratégia muito bem maquinada para tentar a volta ao poder.
Ele sabe que Dilma Rousseff não tem salvação, já é uma página virada e que ficará na História como um grotesco fracasso político da primeira mulher a ser presidente. Sabe também que o PT vai entrar em decadência, duramente atingido pela operação Lava Jato.
Do alto de sua arrogância e prepotência, Lula pensa (?!) que não precisa de partido para ser presidente e em 2018 poderá fazer como Collor, eleito em 1989 pelo PRN, legenda que nem existe mais. O pior é também pensa (?!) que não será atingido pela Lava Jato, sairá incólume apenas dizendo que não sabia de nada, como ocorreu no mensalão.
NEM MESMO DILMA CONTESTOU
O mais surpreendente é que Lula passa a agir deste modo e nada acontece. Duramente atingida pelas críticas dele, a presidente Dilma esboçou um forçado sorriso nos lábios: “Todo mundo tem direito de criticar, mais ainda o presidente Lula, que é muito criticado por vocês”, disse, se referindo aos jornalistas.
A bancada do PT no Senado emitiu uma nota de apoio integral a Lula e em nenhum momento defendeu a presidente Dilma ou o partido. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, disse que o partido precisa refletir sobre as palavras de Lula e também se esqueceu de defender a presidente ou o governo do qual faz parte.
APENAS UM DIRIGENTE RESPONDEU
Na verdade, apenas um dirigente petista teve coragem de contestar o ex-presidente. Vejam o que disse o deputado José Guimarães, atual líder do governo na Câmara. “Lula tem todo o direito de criticar o que ele quiser. Eu não me estresso com essas coisas. Eu só posso dizer que a perspectiva do PT no Nordeste é muito boa. Quem fica apregoando que o PT está no fundo do poço ou está no “volume morto” ou coisa que o valha, vamos esperar as eleições. Eu já vi tantas projeções feitas e não realizadas”, afirmou.
Mas quem é José Guimarães para ter a ousadia de contestar Lula? Ora, é aquele deputado cearense que ficou famoso pelos dólares na cueca que seu principal assessor transportava quando foi preso pela Polícia Federal no aeroporto de Brasília, em junho de 2005, no auge do escândalo do mensalão. Dentro do PT, com este brilhante currículo, Guimarães tem mesmo moral para botar banca com qualquer um, inclusive Lula. É um petista de verdade.
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