segunda-feira, 29 de junho de 2015

Grupo de Collor embolsou 20 milhões num único negócio

Delator diz que Collor recebeu em prestações
Robson Bonin
Veja
Em troca de manter o seu apoio ao governo Lula, o senador Fernando Collor (PTB-AL) conseguiu emplacar o engenheiro José Zonis na diretoria de Operações e Logística da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Um excelente negócio — principalmente para o bolso do próprio senador. Depois da posse do diretor, Ricardo Pessoa foi procurado pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. Ex-ministro de Collor e amigo pessoal do ex-presidente, “PP”, como é conhecido, falou abertamente de seus planos. Disse que a BR Distribuidora estava no raio de influência dele e ofereceu à UTC um pacote de 650 milhões de reais em contratos com a estatal. Em contrapartida, queria uma “comissão”.
Para convencer o empreiteiro, deixou claro que seu fiador no negócio era o amigo “Fernando” e, para provar que não era blefe, levou Ricardo Pessoa até José Zonis para uma primeira aproximação. O dono da UTC contou aos investigadores que, após a reunião com o diretor, a empreiteira aceitou o acordo, ganhou os contratos e pagou a Pedro Paulo e a Fernando Collor nada menos que 20 milhões de reais.
PADRÃO DE 3%
Questionado sobre o suborno, Pessoa esclareceu que seguira a tabela de corrupção da Petrobras durante o governo Lula — o padrão de 3% sobre o montante do contrato. O empreiteiro entregou ao Ministério Público as planilhas com a data dos desembolsos e narrou detalhes de como o dinheiro foi repassado a Pedro Paulo Leoni Ramos. Disse que só aceitara fechar o negócio, inclusive adiantando parte do suborno, por saber que o senador alagoano estava por trás das tratativas.
O ex-presidente da República é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal desde o início da Operação Lava-Jato. Em abril do ano passado, os investigadores apreenderam no escritório do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras, comprovantes de depósitos bancários na conta pessoal de Fernando Collor — num total de 50 000 reais. Quantia pequena se comparada aos volumes de propina movimentados pelos principais corruptos identificados até agora. Era apenas o começo.
TUDO ANOTADO

Em delação premiada, Rafael Ângulo, outro envolvido no escândalo, disse às autoridades que, em 2012, entregou outros 60 000 reais em dinheiro a Collor num apartamento em São Paulo. Mesmo assim parecia um suborno ínfimo para alguém com a biografia do ex-presidente. Com o depoimento de Ricardo Pessoa, fica evidente que tanto os depósitos em conta-corrente como os valores entregues em domicílio não passavam de gorjeta. Organizado, o empreiteiro anotou numa tabela as propinas repassadas ao grupo do senador.
Os pagamentos começaram em dezembro de 2010 e se estenderam até julho de 2012, quando José Zonis se desentendeu com os padrinhos e acabou deixando a Petrobras. Para garantir os contratos, o empreiteiro deu um sinal de 2 milhões de reais e mais vinte parcelas de 900 mil. Total: 20 milhões. O típico mensalão.
 (texto enviado pelo comentarista Celso Serra)
 
 

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