terça-feira, 30 de junho de 2015

Pará vive clima de guerra contra pobres e negros

Pará vive clima de guerra contra pobres e negros (Foto: Ricardo Amanajás)
O deputado paraense Eder Mauro e o mineiro Reginaldo Lopes ouviram relatos de vítimas e entidades (Foto: Ricardo Amanajás)
 
A violência, inclusive o alto índice de crimes contra a vida no Brasil, está ligada à cor de pele, classe social e idade. Este dado foi revelado pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), onde aponta que são assassinados mais jovens negros e pobres no país. Diante desta realidade, em março deste ano, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em Brasília, para apurar as causas de um possível genocídio. Na manhã de ontem, foi a vez de Belém entrar na discussão, através de uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA).
Os deputados federais, estaduais e líderes dos movimentos de Direitos Humanos ouviram depoimentos das vítimas da violência que tem assolado os lares brasileiros, principalmente nas periferias. Os relatos farão parte do relatório final da apuração. O Pará, por sua vez, está na em sétimo lugar no ranking nacional, e de acordo com os parlamentares, faltam políticas públicas e maturidade social.

POLÍTICAS PÚBLICAS
O grupo criado a partir da Comissão de Direitos Humanos da casa parlamentar vem conhecendo de perto as principais capitais do país, onde os índices de violência são maiores. Entre os membros está o deputado federal paraense Delegado Eder Mauro. 
O parlamentar acredita que faltam políticas públicas entre o Governo Estadual e o Federal que dê atenção aos pobres e negros que estão nas periferias. “Falta esporte nas escolas, e até mesmo aulas de educação física. Nós deveríamos fazer como na Europa e nos Estados Unidos, que investem pesado, mas não temos nem mesmo a parte amadora”, lamentou.
Segundo Eder Mauro, faltam cursos técnicos, escolas de tempo integral, artifícios que tiram os adolescente do recrutamento da criminalidade. “Se nós tivéssemos isso, teríamos uma juventude ocupada, em busca de um sonho e oportunidade, procurando um caminho correto. Mas quem não tem estrutura familiar, entra no caminho das drogas, morre e mata”.

PREOCUPAÇÃO
Conforme o deputado Eder Mauro, a capital paraense e região metropolitana apresenta um índice preocupante em relação ao homicídio. “Belém, incluindo Ananindeua, foi amplamente noticiada como a cidade que mais mata no país”, expôs. A afirmação é baseada nos dados da Organização das Nações Unidas, que aponta 10 mortes para 100 mil habitantes, sendo estado de guerra civil. “No Brasil temos quase 70 mortes por 100 mil habitantes. Isso é uma vergonha”, disse.
No país, nos últimos 12 anos, o índice de morte entre os brancos tem reduzido em 40%, enquanto aumentou no mesmo período, 40% a violência contra negros e pobres. Nós últimos trinta anos, por causas externas, foram mortas 2,4 milhões de pessoas, quase a população do Uruguai, segundo o presidente da CPI Reginaldo Lopes, deputado federal do PT em Minas Gerais.
“O Brasil vive com taxas estarrecedoras, e o Estado do Pará está muito acima da média nacional. Por exemplo, a cidade de Belém mata mais de 100 pessoas para cada 100 mil habitantes”, apontou. “Os índices ultrapassaram o que a ONU diz ser guerra civil. Então, assim, o Pará está em guerra civil”, comentou Lopes.
De acordo com as estatísticas, 80% das mortes estão relacionadas aos jovens e negros, e por isso, os participantes da Comissão acreditam que há um racismo histórico institucionalizado no país. “Temos que dar à luz a essa realidade. Criar uma cultura de paz para todos, não só para os ricos e brancos. Não pode ser normal matar 60 mil pessoas por ano e 80% negros”, lembrou Reginaldo Lopes.

NOVO SISTEMA
A CPI visa fazer um novo sistema compartilhado republicano entre todos os poderes. “Uma cidade como Belém, onde se mata muito por ano, o prefeito não pode ficar acomodado. Todos devem participar”, concluiu o presidente.
Para as lideranças dos movimentos negros, a CPI tem sido de grande relevância. “É importante que o Estado tome consciência que ele precisa agir. Que ele faça políticas públicas para proteger a vida, pois quem morre mais é a juventude negra, então tem que ser combatido o racismo”, elucidou Zélia Amador de Deus, presidente do Centro de Estudos de Defesa do Negro no Pará.
Já Ronald Luz, presidente da comissão de Direito e Paz, que atua diretamente no caso do extermínio de seis jovens em Icoaraci, em 2011, acredita que os casos de homicídio devem ser analisados e jugados severamente.
(Diário do Pará)



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