O ex-presidente José Sarney disse, no ano
passado, que não concorreria à reeleição ao cargo de senador pelo Amapá
para, segundo ele, ter tempo de cuidar de assuntos da vida pessoal. O
oligarca justificou que a idade avançada, a família e a paixão pela
literatura foram determinantes para que deixasse a vida política.
O que o ex-senador Sarney diz não tem crédito. O que o pai da ex-governadora Roseana Sarney fala não se anota.
Sem mandato e sem conseguir ficar longe
das benesses do poder, Sarney, ao contrário do que prometeu, continua a
participar de cerimônias ao lado de ministros e da presidente da
República, Dilma Rousseff (PT). Desde que deixou o cargo de senador,
Sarney já participou de várias cerimônias no Palácio do Planalto, todas
com a presença da presidente, e acumula cargo na hierarquia do PMDB.
Nota-se que o apego ao poder ainda é
presente na vida de José Sarney. O fato de não ter disputado mandato de
senador, a contragosto, ocorreu devido ao seu elevado desgaste político.
Em todas as pesquisas, amargava as últimas colocações. Para não
encerrar sua carreira com uma derrota humilhante, Sarney inventou o
pretexto de que iria se dedicar à literatura, uma de suas grandes
paixões.
José Sarney deixou o Senado em fevereiro
deste ano após quase 60 anos cumprindo mandatos políticos, aos 85 anos
de idade. Ele continua morando em Brasília, onde mantém escritório.
Recentemente, passou por situação vexaminosa para a estirpe dos
ex-presidentes da República. De posse de uma lista de nomes, telefonava
para ministros da Esplanada e para o Palácio do Planalto, solicitando
audiências e – nas que conseguia – pedia cargos para afilhados, na
condição de cacique do PMDB. São aliados desempregados no Amapá e
Maranhão, Estados que já foram seus redutos eleitorais. De pequenas
vagas, com salários de menos de R$ 1 mil, a uma superintendência de um
banco estatal no Nordeste, o veterano distribuiu a lista sem titubear,
mas constrangendo os petistas.
Fora a função de pedinte e intercessor
por suas “viúvas”, Sarney também acumula cargos importantes na estrutura
do PMDB, é membro da Executiva Nacional (órgão máximo da sigla) e é
delegado do diretório estadual do PMDB no Amapá. Além disso, passa o
resto do tempo em articulações de conspiração contra adversários, a
exemplo do governador do Maranhão Flávio Dino e, no que menos tem
talento para fazer, escreve artigos no seu jornal para agourar o estado.
Esse é o Sarney de hoje.
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