Para os moradores da periferia de Belém, o dia 5 de novembro será uma noite difícil de esquecer. Para as famílias das vítimas, ficaram cicatrizes ainda mais profundas. O cabo da PM Antônio Marcos Figueiredo foi morto a tiros ainda dentro do carro no Guamá. O assassinato teria sido o estopim para uma onda de mortes deflagrada na Grande Belém, especificamente nos bairros da Terra Firme, Guamá, Jurunas, Tapanã e Sideral. Até agora nenhuma das pessoas responsáveis pelos crimes foi presa. De acordo com a Polícia Civil, as investigações correm em segredo de justiça.
A sequência de crimes gerou uma convulsão nas redes sociais. A cada minutos, informações e boatos pipocavam no Facebook, Twitter e Whatsapp. A quantidade crescente de informações falsas trouxe pânico para a população. Ainda em julho deste ano, quando se estava prestes a completar oito meses da chacina, o delegado geral da Polícia Civil, Riomar Firmino, garantiu que as investigações estavam avançando e que pelo menos 40 pessoas seriam indiciadas pelos assassinatos.
Mas os familiares ainda aguardam por isso. “Esses caras vem atrás da gente!”. Antes de morto com um tiro nas costas, essas foram as últimas palavras proferidas por Márcio dos Santos Rodrigues, de 22 anos. A mãe dele soube disso através de sobreviventes da onda de tiros que correu a Rua da Olaria, no bairro do Tapanã. A dona de casa Suzana Amaral, 46 anos, vive em busca de respostas. Trabalhador, Márcio foi assassinado na porta de casa quando voltava de uma praça de alimentação onde tinha ido confraternizar com amigos no dia de sua folga. “O meu filho vem com dois amigos na moto, passa por uma viatura da polícia e quando tá entrando na rua de casa é baleado nas costas!”, conta, informando que testemunhas apontaram a atuação de três pessoas que se deslocavam em duas motocicletas atrás dos jovens. “Não teve abordagem da polícia, não teve nada. Foram só os tiros”.
COMISSÃO
Jefferson Cabral dos Reis, 27 anos, dava os últimos suspiros quando a mulher e a sogra chegaram. Pouco antes, um grupo de motoqueiros armados e encapuzados invadiam as ruas e matavam quem estivesse por perto. Marilene Brandão encontrou o genro ao lado da bicicleta que usava para levar a namorada da escola no Guamá até a Terra Firme. “Parecia um animal”, conta emocionada. “Quando eu já estava pegando a bicicleta, vi um grupo de motoqueiros passar chutado”. Jefferson morava em uma casa de apenas um cômodo no bairro do Guamá, nos fundos de um terreno cheio de pequenos barracos.
Trabalhava em um supermercado e há oito meses, estava afastado para o tratamento da hanseníase. À noite, costumava ir à escola Francisco da Silva Nunes, no Guamá, apanhava a namorada e a levava de bicicleta até a Terra Firme. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito instalada na Assembleia Legislativa do Estado do Pará apurou a existência de milícias no Pará. Divulgado no dia 30 de janeiro de 2015, o relatório da CPI reconheceu a existência de pelo menos quatro grupos de extermínio no Estado.
Segundo o documento apresentado a imprensa, no total, quatro grupos estariam agindo no Pará: um deles no Guamá, outro em Icoaraci e outros dois nas cidades de Marabá e Igarapé-Miri. O documento pede ainda o indiciamento de aproximadamente 60 pessoas envolvidas nos grupos, entre eles, policiais militares e até políticos do interior. Mas, até agora, o sistema de Segurança Pública mantém um silêncio incômodo sobre o caso.
SEGREDO
A assessoria de Comunicação da Polícia Civil informou que a investigação dos crimes segue na condição de segredo de justiça. Acrescentou ainda que está sendo apurada a ligação entre os assassinatos e se há envolvimento de policiais militares na chacina. A investigação está a cargo do delegado marco Antônio Oliveira, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil.
(Diário do Pará)
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