segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SERROU O GALHO ONDE ESTAVA SENTADA

Carlos Chagas
A imagem é cruel, mas aplica-se perfeitamente à situação: a presidente Dilma serrou o galho no qual estava sentada. Vai despencando. Sempre terá a chance de segurar-se em alguma forquilha da árvore, mas o chão se aproxima desde que resolveu diminuir o número de ministérios, decisão, aliás, justa e oportuna, mas malfeita. Ao anunciar a diminuição,  deveria ter apontado os ministérios a ser suprimidos, participando a mudança aos já ex-ministros e escolhido outros. Perdeu-se em indecisões e abriu a guarda para a briga de foice em quarto escuro entre PMDB, PT e penduricalhos. Levou para dentro de cada legenda as contendas e bate cabeças anteriores, que apenas se acirraram, sem que ela pudesse chegar a alguma conclusão.
Hoje, ignora-se quais os dez ministérios que desaparecerão. Muito menos os que serão incorporados a outros. Sequer os novos integrantes da equipe.  Pressões e ameaças invadem o palácio do Planalto enquanto sua inquilina refugia-se no Wardolf Astoria, em Nova York, sem dispor de um esboço do que anunciará quando desembarcar em Brasília, amanhã à noite.
Uma trapalhada a mais, estimulando parte do PMDB a desligar-se do governo e impondo ao PT um jejum de presença na Esplanada dos Ministérios, responsável pelo início da debandada de companheiros para outros partidos.  Qualquer que seja o resultado do remanejamento ministerial, haverá mais descontentes do que beneficiados, consequência inevitável de Madame não ter feito o dever de casa. Seria simples se tivesse armado a operação em seus mínimos detalhes para depois torná-la pública.
Em especial por ter-se voltado à acomodação das bancadas governistas, esquecendo que o objetivo maior da mudança deveria ser a eficiência da máquina administrativa, jamais uma operação de compra e venda incompleta, como se encontra. Se o objetivo era aparar arestas e consolidar suas estruturas parlamentares, saiu tudo errado.
E O PMDB?
Só falta mesmo acreditar na disposição de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha de não se intrometerem na reforma, deixando de indicar novos ministros. Proveito eles estão tirando das indefinições e da disputa interna em seu partido, mas no sentido de saltarem de banda, desfazendo a aliança com o governo. Faltam ser apreciados alguns vetos apostos a projetos de lei já aprovados no Congresso. Ninguém se espante caso a maioria conquistada semana passada se desfaça.
Em suma, se os partidos encenam espetáculo nada edificante na busca fisiológica de espaços de poder, a presidente Dilma recebe o ônus de haver precipitado mais uma crise. Teria sido melhor deixar 39 ministérios, em vez de 29?


 

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