Carlos Chagas
Em 1963, ao recuperar seus poderes de presidente da República, João Goulart desenvolveu intensa campanha pelas reformas de base, interrompida por sua deposição pelos militares. Naqueles idos, estimulado pelas esquerdas, era pelo que a maioria do país clamava: participação dos empregados no lucro das empresas, salário-família, estatização das indústrias ligadas ao desenvolvimento, reforma agrária com a extinção dos latifúndios, voto do analfabeto e dos subalternos das forças armadas, fim do ensino privado, limitação da remessa de lucros e outras iniciativas de caráter socializante. Nos meios de comunicação só se falava das reformas, que as elites engoliam, mesmo já conspirando contra o governo.
O vento mudou de rumo, as reformas foram para o espaço, conquistas sociais estabelecidas desde os tempos de Getúlio Vargas acabaram revogadas, como a estabilidade no emprego.
Pois não é que volta-se a cogitar das reformas? Só que de cabeça para baixo. Ao contrário, apesar de o rótulo permanecer. As elites querem completar sua obra, extinguindo o que sobrou do desmonte, ironicamente com o silêncio e até com apoio das massas. Ou de seus ditos representantes.
MUDAR A PREVIDÊNCIA
Vão reformar a Previdência Social, mas para reduzir pensões e aposentadorias, sob o argumento de que dão prejuízo. Aplicam o raciocínio de que tudo deve dar lucro e também vão revogar a indexação salarial, expediente adotado pelos governos militares para o povo não morrer de forme, ou seja, os salários vinham sendo corrigidos de acordo com a inflação. Não será mais assim. Pior para o assalariado. Também anunciam a flexibilização dos direitos do trabalhador, que significa poder o empregador ditar as regras de trabalho sem obrigações. Atuará de acordo com o mercado, podendo suprimir indenizações e pagando o que bem entender.
Convenhamos, existem reformas e reformas. Vivemos o período das maldades reformistas. E sob a égide de um governo pretensamente do Partido dos Trabalhadores, agora empenhado em aumentar e criar novos impostos, como se administração pública não se assemelhasse ao sistema dos vasos comunicantes que aprendíamos nas primeiras aulas de física. Se a Previdência Social dá prejuízo – e não dá – o Imposto de Renda dá lucro.
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