segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ministro da Defesa revela como os militares monitoram os movimentos sociais


Jungmann é um ministro que tem a confiança dos militares
Luiz Maklouf CarvalhoEstadão
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse, em entrevista ao Estadão, que um dos maiores problemas do governo do presidente em exercício Michel Temer para tirar o Brasil da crise “é que parte do Congresso é de réus”. Também deputado federal licenciado (PPS-PE), o ministro complementou: “Se há inteligência no Congresso, e eu acho que há, todos sabem que chegou ao fundo do poço”. Apontou, como solução, que a Operação Lava Jato vá às últimas consequências, sem interferências.
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A Lava Jato não se incluirá em nenhum pacto político – e nem pode, e nem deve”, afirmou.“Político que enriquece na política só tem um jeito: roubou. Eu estou dizendo isso aqui, gravado”. Sua declaração de bens comprova: R$ 47.600,00 e um carro (do qual ainda falta pagar R$ 16 mil). “É todo o meu patrimônio”, afirmou. ”E não adianta procurar laranjas, porque não vão achar”.
O governo Michel Temer está completando 15 dias. Que avaliação o sr. faz?
A minha geração tem experiência de duas transições fruto do impeachment. Uma foi a do Itamar (Franco, presidente da República em 1993 e 1994), da qual participei. Essa é a segunda. O Itamar assumiu com estabilidade política e sem questionamentos do impeachment do Collor (Fernando, ex-presidente, de 1990 a 1992). Hoje, com a transição em andamento, o presidente Temer tem que conquistar a estabilidade política, que não está dada. E o impeachment da presidente Dilma vai ser um processo de resistência e alongado.
E como entra a Operação Lava Jato nessa equação?
É a outra diferença em relação ao Itamar. Lá não tinha a Lava Jato, e então o pacto político podia incluir todas as variáveis. Agora, não. Tem uma variável independente, chamada Lava Jato, que não se inclui em nenhum pacto político, e nem deve, e nem pode. Só que ela tem o efeito de provocar, na política, turbulências e ondas de choque que tem que ser administradas. É por isso que a tarefa do presidente Michel Temer é muito maior do que foi a do Itamar, no sentido de desdobramento, de esforço e de necessidade de aglutinação.
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E como é que se governa com um Congresso em que uma parte é de réus?
Não inibindo a Lava Jato, essencialmente. Se há inteligência no Congresso, e eu acho que há, todos sabem que chegou ao fundo do poço. Todos sabem. E essa baixa representatividade, esses descolamento que existe, ele é um convite a salvadores da pátria, a profetas, a descaminhos. É só olhar a história dos países vizinhos, e mesma a nossa história. As lições estão todas lá.
O sr. tem informações sobre o que ainda pode vir à tona?
Não tenho como saber. O que eu acho é que virá, e por isso ela precisa ser garantida, inclusive contra a política, para prosseguir e passar a política a limpo. Não irá adiante se a parcela regeneradora do Congresso não apoiar.
Qual é a sua opinião sobre as gravações em que o senador Romero Jucá propõe uma articulação para “estancar a sangria” da Lava Jato?
Vou dar uma resposta genérica, não dirigida ao ministro Jucá, porque eu não quero prejulgá-lo. É muito simples: não cabe sufocar, inibir, atrapalhar, desviar, paralisar, evitar o andamento da Lava Jato.
O presidente Temer optou por colocar no Ministério políticos investigados pela Lava Jato – mesmo sendo muito provável que isso traria problemas e desgastes. O sr. usaria esse critério se estivesse no lugar dele?
Eu não sou o presidente e não vou raciocinar com hipóteses. O presidente lida com realidades: a necessidade da estabilidade, a urgência de aprovar medidas dentro do Congresso que aí está. Não é outro Congresso. É este. Ele tem que lidar com esse fio da navalha. E ainda há o fato de conviver com o processo de julgamento da presidente afastada, em andamento no Senado, que é um polo para desestabilizar o governo e reverter a situação.
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Desestabilizar?
Claro, o objetivo é exatamente este. Eu me indignei muito quando a presidente iniciou esse discurso de que o processo de impeachment é golpe.
Por quê?
Ora, se a presidente diz que tem um golpe em curso, ela tem por dever, por ter jurado isso na posse, tomar as providências. Não pode ficar falando isso retoricamente. Se há um golpe, se estão ameaçadas as instituições democráticas, que ela jurou defender, e a Constituição, como é que ela pode falar em golpe e não agir? Ela nunca age, nunca agiu.
Agir em que sentido?
Ela pode ir ao Ministério Público e denunciar o golpe e dizer quem são os golpistas, identificar. Porque, a considerar isso, golpistas seriam o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal. Por que ela não faz essa denúncia? Porque desmoraliza o discurso.
Ela não tem o direito de entender que foi um golpe?
Direito ela tem. Mas se diz que é um golpe, e não age, é apenas retórica, é irresponsável ou está prevaricando, porque é atribuição dela defender as instituições democráticas.
A presidente Dilma volta ou não volta. Qual é a sua expectativa?
A minha expectativa é, sobretudo, que isso se decida rapidamente. Nem tão rápido que rápido que não permita todos os direitos e o contraditório da presidente, nem tão devagar que eternize as condicionalidades do governo. O fundamental é que se tome uma decisão, seja ela qual for. Politicamente, a minha impressão, primeiro, é de que é dificílimo que o retorno venha a acontecer e, segundo, que um eventual retorno não venha a ser bom para o País. Mas o Senado é soberano e caberá a ele decidir.
Os militares, agora sob o seu comando, estão monitorando os movimentos sociais – como dito pelo senador Romero Jucá em uma das gravações grampeadas?
As Forças têm serviço de inteligência. Fazem esse monitoramento desde sempre – não só este governo, mas nos governos Dilma, Lula, Fernando Henrique, Itamar, Collor. Por definição, é exatamente monitorar a conjuntura, a situação nacional, para informar os chefes militares e o ministro da Defesa. Não há nenhuma diferença entre o que está sendo feito hoje e o que o governo Lula ou o governo Dilma faziam em relação ao MST. Não mudou nada. Monitorar não é bisbilhotar, interferir, grampear, nada disso.
Defina monitorar. 
Fazer um acompanhamento, através da imprensa, através de informações que você possa ter. Tem unidades espalhadas por todo o País. ‘Olha vamos ter uma manifestação aqui’, seja o que for, você acompanha.
Digamos que é uma forma mais técnica de bisbilhotagem.
Não. Bisbilhotar jamais. É contra a Constituição. É interferir em direitos e garantias que não podem de forma nenhuma ser alcançados ou feridos. Hoje, nas Forças, não há a menor resistência em compreender e aceitar o papel dos movimentos sociais, de reivindicar, de protestar. Não tem nenhum problema em relação a isso.
Como é que os militares acompanharam e estão acompanhando essa transição?
Os militares foram impecáveis, não cometeram qualquer deslize. A posição que eu sempre ouvi deles foi: ‘não apoiamos nenhuma aventura’.
Estavam preparados para a possibilidade de aventuras?
Por definição eles estão sempre preparados. Desde que convocados por um dos três Poderes, como manda a Constituição. Como eu ouvi dos comandantes e continuo ouvindo: fora da Constituição nada, zero.
Como é que o presidente o escolheu para o Ministério da Defesa?
Ao que eu sei, ele enviou um emissário aos comandantes militares, que sugeriram o meu nome. Em paralelo, o (Eliseu) Padilha (hoje ministro da Casa Civil) foi conversar com o (Nelson) Jobim, ex-ministro da Defesa. ‘Olha, tem um cara que já foi ministro, e é muito respeitado pelos militares, que é o Jungmann’. Depois o presidente ligou, pediu que eu fosse ao Jaburu e me convidou. Eu disse a ele: ‘Não cabe reivindicar nada, para não constrangê-lo e para que o sr. faça o melhor governo que possa fazer; agora, por responsabilidade, não cabe recusar, então eu aceito’.

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