Os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato ameaçaram renunciar ao trabalho na operação, caso o pacote anti-corrupção, aprovado nesta madrugada pela Câmara, seja aprovado pelo Senado ou sancionado pelo presidente Michel Temer. Durante coletiva de imprensa em Curitiba, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que, em caso de sanção ao pacote pelo presidente Michel Temer, “nossa proposta é de renunciar coletivamente” à operação.
— Fica claro com a aprovação desta lei que a continuidade de qualquer investigação sobre poderosos, sobre parlamentares, sobre políticos, cria riscos pessoal para os procuradores. Nesse sentido, nossa proposta é de renunciar coletivamente caso essa proposta seja sancionada pelo presidente — disse Carlos Fernando.
A Lava-Jato classificou o texto, aprovado pela Câmara, como “um ataque” e pediu para que a proposta não seja aprovada. Durante pronunciamento à imprensa em Curitiba, o procurador Deltan Dellagnol, coordenador da Lava-Jato, disse se tratar “do golpe mais forte deferido contra a Lava-Jato em toda a sua história”.
A força-tarefa foi constituída por procuradores de vários estados. Segundo o procurador Carlos Fernando, caso a proposta seja sancionada pelo presidente, os procuradores irão renunciar e retornar às suas atividades habituais em outras procuradorias ao redor do país.
— Nós vamos simplesmente retornar para nossas atividades habituais porque muito mais valerá a pena fazer um parecer em previdenciário do que se arriscar investigando poderosos — afirmou o procurador.
Em nota, os promotores da Lava-Jato acusaram a Câmara de se aproveitar do acidente aéreo com o time da Chapecoense para “subverter” o projeto de iniciativa popular.
“Aproveitando-se de um momento de luto e consternação nacional, na calada da madrugada, as propostas foram subvertidas. As medidas contra a corrupção , endossadas por mais de 2 milhões de cidadãos, foram pervertidas para contrariar o desejo da iniciativa popular e favorecer a corrupção por meio de intimidação do Ministério Público e do Judiciário”
Para os integrantes do Ministério Público, “as 10 medidas foram rasgadas” e “manteve-se a impunidade dos corruptos e poderosos”. Segundo eles, a mensagem que os deputados deram à sociedade foi “persigam os juízes e promotores e soltam os colarinhos brancos”.
Lima Santos disse que a desfiguração do projeto original foi um revés para a população e não a Lava-Jato.
— Ludibriada foi a população, não o MInistério Público. Quem se aproveitou de um desastre que consternou o país não fomos nós. Agimos sempre com transparência. Em uma noite tudo se pôs a perder — disse Santos Lima.
Deltan afirmou que postura dos deputados é uma reação às investigações, já que estão chegando aos políticos.
— Fizeram isso porque estamos investigando. Chegaríamos muito mais longe. (O Globo)