Poeta será homenageado hoje, data que celebraria 90 anos, em evento que reunirá artistas em torno da vasta obra do introdutor do Modernismo no Maranhão e fundador, ao lado de José Sarney, do jornal O Estado do Maranhão
SÃO LUÍS - Militante, humanista, erudito, Bandeira Tribuzi foi jornalista, professor, economista, filósofo, músico e compositor, mas, acima de tudo, poeta. Para exaltar sua obra, um grupo de artistas e admiradores se reunirá hoje, 2 de fevereiro, data de aniversário de 90 anos do escritor que morreu em 8 de setembro de 1977, para a homenagem “Breve Memorial do longo tempo”. O encontro será às 16h, no memorial que leva o nome do poeta, na Ponta d’Areia.
Estão programadas rodas de conversas, exposições, música, declamação de poesia, leitura dramática e oficinas, entre outros. De acordo com a diretora do memorial e neta de Bandeira Tribuzi, Gabi Campos, o projeto nasceu da necessidade de resgatar a memória do poeta. “Bandeira Tribuzi tem a trajetória de vida entrelaçada à cidade, repleta de contribuições históricas. A existência de um lugar específico para a preservação dessa memória reforça a necessidade de mantê-la viva, pois valoriza a história do povo que é parte significativa e essencial na construção da história de forma geral”, destaca Gabi Campos.
A abertura do evento será feita pela trupe de O Circo tá na Rua, que fará uma exposição de fotos e ilustrações. O hino da cidade, “Louvação a São Luís”, ganhará leitura dramática de Jairiane Muniz. A seguir, será formada uma roda de conversa da qual participa o poeta Celso Borges que trabalha em um projeto dedicado a Bandeira Tribuzi. Trata-se de um CD e um documentário sobre a obra do escritor. “Os projetos têm o espírito de afeto e poesia. Juntar artistas em torno da obra de um cara importante, que todo mundo gosta, mas que conhece pouco a obra. Tribuzi é muito mais importante do que a roupa oficial que vestem nele. Temos que diminuir um pouco mais o símbolo que ele representa e aumentar o seu valor como homem e intelectual”, opina Celso Borges que na ocasião, falará sobre o CD, que deverá ser lançado ainda este ano, possivelmente em setembro, e o documentário, ainda sem data para chegar ao mercado. Ao final, lerá alguns poemas do homenageado.
Sobre o CD, ele explica que será algo similar ao “Palavra Acesa”, que compilou e musicou poemas de José Chagas. A exemplo daquele, este também terá parcerias de peso, inclusive de Zeca Baleiro. “Faço a direção geral. Reli toda a obra de Bandeira, escolhi e editei alguns poemas e chamei pessoas muito queridas e importantes”, adianta.
O álbum terá 14 faixas produzidas por Alê Muniz, que assina seis; Luiz Jr, outras seis; e Zeca Baleiro duas. Os intérpretes serão Chico Maranhão, Sérgio Habibe, Rita Benedditto, Flávia Bittencourt, Zeca Baleiro, Madian, Marcos Magah, Bruno Batista, Claudio Lima, Josias Sobrinho, Preto Nando, Criolina, Fauzi Beydoun, Mochel, João Pedro Borges, Nosly e Chido Saldanha.
Celso Borges ressalta que são dois projetos distintos, o do disco e o do documentário. “Os dois estão sendo bancados pelo Museu da Memória Audiovisual do Maranhão (Mavam) e, por enquanto, não existe patrocinador, embora o documentário tenha sido aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Leitura. Já o CD é aposta do Mavam. Com orçamento bem reduzido, os artistas estão dando a maior força, há uma alma coletiva nisso”, defende Borges.
O documentário está em fase de gravações dos depoimentos. Serão ouvidos contemporâneos de Tribuzi, amigos e artistas que dialogaram com ele e viveram experiências conjuntas. “Acredito que até o fim de março a gente termine e passe para a gravação de alguns poemas e comece a montagem. Mas tem muito trabalho ainda”, diz Borges que assina, ao lado de Beto Matuck, a direção do registro audiovisual.
Homem de letras e do mundo
José Tribuzi Pinheiro Gomes nasceu em São Luís dia 2 de fevereiro de 1927 e teve o codinome incorporado ao nome devido à predileção pela obra de Manuel Bandeira, a quem admirava. Filho do português Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes e da maranhense Amélia Pinheiro Gomes, antes de completar três anos de idade, seguiu com a família para a terra natal do pai.
Na Europa, frequentou escolas em Porto, Aveiro e Coimbra e por lá permaneceu até concluir sua formação superior. Apesar de filho de comerciante bem-sucedido, não assumiu cargo na firma do pai. A sólida formação humanística o impeliu para outras paragens. Formado em Filosofia e Ciências Econômicas e Sociais, Bandeira Tribuzi retornou a São Luís em 1946, onde viveu até a morte.
De volta a sua cidade natal, os elevados propósitos de Tribuzi pairavam muito acima das cabeças de seus conterrâneos, que logo reconheceram nele a erudição. Sob a influência de nomes até então desconhecidos no meio maranhense, como Sá-Carneiro, José Regio, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, além de Garcia Lorca, o poeta e escritor logo contagiaria sua geração com ideias novas.
Iniciou o Modernismo no Maranhão em 1948, com a publicação do livro de poesia “Alguma Existência”. Em sua biografia, destaca-se a autoria da marcha-rancho “Louvação a São Luís”, tomada como hino da cidade que tanto cantou.
Jornal
Como fruto da parceria com José Sarney, que durou até sua morte, em 8 de setembro de 1977, os dois se juntaram, no final dos anos 1950, em torno do projeto do Jornal do Dia, rebatizado com o nome O Estado do Maranhão em 1973.
Fascinado pelo dia a dia da Redação, ao lado de escribas importantes daquele período, Tribuzi foi jornalista vibrante, coordenador eficiente, editor competente, além de editorialista e colunista respeitado. Permaneceu à frente de O Estado até a sua morte prematura, com apenas 50 anos.
Declaração
Não quero ser guardado
Numa antologia.
Ó que Deus me guarde
de ficar fechado
numa antologia.
Quero que meus versos
teçam a alegria
e corram nas ruas
como pão na vida.
que eles desabrochem
na mão do meu filho
em rosa de amor
aos ventos se abrindo.
Não quero meus versos
numa antologia.
Quero-os rolando
caminhos e dias
na boca do povo:
rosa da esperança
vermelha e florida.
Bandeira Tribuzi (do Íntimo Comício ; Obra Poética - 2002)
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