Carlos Newton
O comentarista Carlos Frederico Alverga nos envia uma oportuna entrevista do economista Carlos Lessa à repórter Patricia Fachin, da revista IHU Online, do Instituto Unisinos, no Rio Grande do Sul. Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que o País não demonstrou sinais de que sairá da depressão econômica em que se encontra, embora continue com as características que sempre teve: é a industrialização periférica mais bem-sucedida do planeta”. Lessa também comenta a crise política e afirma que o país está vivendo um período de crescente desarticulação política”.
Confira alguns trechos da importante entrevista:
Sobre a participação dos jovens na política, além da ocupação das escolas, que outros exemplos percebe de atuação da juventude no país?A principal que vejo é essa. Secundariamente, eles estão começando a perceber coisas mais relevantes, como a de que politicamente há a necessidade de encontrar uma saída. Penso que haverá uma renovação de quadros impressionante nas próximas eleições no país.
O senhor tem algum nome em mente?Não, não tenho ninguém em mente, mas acredito que isso vai acontecer, inexoravelmente. Do ponto de vista de Presidência da República, se a crise continuar, a candidatura de Lula é, obviamente, a candidatura vitoriosa. Porém, não penso que o PT seja o partido vitorioso. Com isso se criará uma situação muito curiosa: teremos uma renovação enorme na base do Congresso, e as pessoas que vão se eleger são aquelas que se dizem não políticas. Com isso teremos uma espécie de renovação de currículos. Qual será o resultado, não sei; não tenho bola de cristal.
Qual seria a implicação de uma possível eleição de Lula em 2018? Ele repetiria o mesmo modelo do governo anterior?Acho que não. Se Lula vier a se eleger, ele vai olhar no entorno e se perguntar: “Cadê o partido, cadê a coalizão partidária?”. Ele não vai encontrá-los, porque o PT acabou. As propostas econômicas do Lula serão, provavelmente, extremamente conservadoras, como geralmente são. Ele fará um discurso que, por um lado, sinaliza ao povo e, por outro, sinaliza aos conservadores, dizendo que não vai quebrar nada; vai fazer o discurso que ele sempre fez.
Como aquele da Carta ao Povo Brasileiro?Isso, como aquele da Carta ao Povo Brasileiro, mas vai repeti-lo de maneira atualizada, pois a história nunca se repete de maneira monótona.
Além do nome do ex-presidente Lula, hoje cogitam-se alguns possíveis candidatos para a eleição de 2018, como Ciro Gomes e João Doria. Como vê essas possibilidades políticas para o Brasil?Ciro Gomes não tem condições de ir muito em frente. O nome dele já está disponível, mas ele não gera, em relação à crise, nenhum sinal, nem positivo nem negativo, para a opinião pública. Para mim, gera, porque eu sei que ele não concorda com as orientações gerais neoliberais, mas e daí? A minha opinião não tem a menor importância. Acho que o Ciro vai se manter candidato, terá uma reconfirmação da presença dele no processo político e irá ajudar um determinado conjunto de candidatos que estarão renovando seus assentos no Congresso. Quanto ao prefeito de São Paulo, vejo a imprensa conservadora fazendo um imenso esforço para fazê-lo candidato. De certa maneira, eu diria que o candidato provável não é o prefeito, mas sim o Alckmin. Se bem que deve ter muita aposta em relação ao Doria. Ele terá vantagens também, caso se apresente com tendo um comportamento não político, no sentido clássico da palavra – é isso um pouco do que a imprensa está tentando construir como a imagem dele.
Como vê esse discurso de candidatos que se definem como “não políticos”?Doria é visivelmente um dos bem-sucedidos, tanto que ele fez uma trajetória exitosa no principal colégio eleitoral brasileiro. O discurso dele é uma espécie de avant première, um discurso que vai, provavelmente, se generalizar daqui para a frente.
Isso é positivo para a política?A política não tem algo positivo ou negativo, a política se desdobra a partir do presente, pelas linhas de menor resistência ou pelas linhas possíveis. O povo brasileiro, visivelmente, vai procurar quem não tenha atestado político. Lula vai fazer a campanha dizendo que foi removido para fazerem a crise, vai atribuir a crise a seus inimigos, por isso a campanha eleitoral dele é fácil.
Isso é positivo para a política?A política não tem algo positivo ou negativo, a política se desdobra a partir do presente, pelas linhas de menor resistência ou pelas linhas possíveis. O povo brasileiro, visivelmente, vai procurar quem não tenha atestado político. Lula vai fazer a campanha dizendo que foi removido para fazerem a crise, vai atribuir a crise a seus inimigos, por isso a campanha eleitoral dele é fácil.
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