Thais BilenkyFolha
À revelia de lideranças da Assembleia de Deus, maior igreja evangélica do país, o deputado Jair Bolsonaro escolheu o PEN (Partido Ecológico Nacional) para se lançar à Presidência em 2018. Com a decisão, ele se desligará do PSC, vinculado à cúpula da denominação religiosa, para ingressar em uma sigla sem influência no segmento evangélico e pequena estatura.
Em compensação, terá ascedência sobre o comando da sigla e ocupará ao menos seis cargos na Executiva. Fundado em 2012 pelo ex-deputado estadual Adilson Barroso, que se define como ambientalista não radical, o PEN tem hoje três deputados federais e 15 estaduais.
FORTALECIMENTO – A ida de Bolsonaro, se confirmada, deverá trazer uma leva de filiados. Segundo a Folha apurou, Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), seu filho, e outros 15 deputados federais aproximadamente, além de 15 estaduais são esperados.
O partido também promete mudar de nome. Uma enquete em rede social mostrou preferência de simpatizantes pela denominação Patriota.
“Está 99,9% fechado, estamos só esperando a assinatura do ‘casamento partidário’, por isso o 0,1%”, afirmou o presidente do PEN. A assessoria do deputado confirmou que a troca está acertada, mas não concluída.
HORÁRIO GRATUITO – A ampliação da bancada do PEN na Câmara pode ser fundamental para a campanha de Bolsonaro, caso o Congresso aprove o fim das coligações e assim restrinja o cálculo do tempo de TV ao número de cadeiras do partido do candidato.
O potencial presidenciável contrariou a recomendação de líderes da Assembleia de Deus ao anunciar a desfiliação do PSC e tornar pública sua briga com o presidente do partido, Pastor Everaldo.
Citado na Operação Lava Jato, o Pastor Everaldo perdeu prestígio no segmento evangélico. Bolsonaro, cujo discurso é baseado na crítica à corrupção, menciona frequentemente o envolvimento de Everaldo na operação e o ataca por coligações com siglas de esquerda como o PC do B.
NOVA JORNADA – Everaldo não quis comentar. Disse apenas que “deseja muito boa sorte” ao deputado “nessa nova jornada”.
“Eu falei para Bolsonaro que achava que ele tinha que ficar no PSC e conquistar o partido, independentemente do Everaldo”, afirmou o pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Eu disse a ele: ‘Ganhe o partido, é uma maneira de mostrar a sua capacidade política’.”
Malafaia, que se disse dividido entre apoiar em 2018 Bolsonaro ou o prefeito paulistano João Doria (PSDB), afirmou que o comando do PEN “é um zero à esquerda no mundo evangélico, não tem nenhuma influência”.
SEM INFLUÊNCIA – Fiel da Assembleia de Deus em Barrinha (SP), região de Ribeirão Preto onde foi cortador de cana na infância, Barroso reconheceu não ter influência na igreja, mas garantiu que vai se dedicar a conquistar votos.
“Não tenho entrada nenhuma, mas é natural que a gente vá a todos os segmentos, de todas as religiões, para mostrar que temos habilidade para gerir o Brasil”, disse ele, que emendou que não “mistura política com religião”.
Evangélicos estão à frente do partido e comandam diretórios em Estados como Paraná e Mato Grosso do Sul.
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