quinta-feira, 10 de agosto de 2017

“O Globo”, que já foi o melhor jornal do país, se transforma em mero panfleto anti-Temer


 

Jornal perde a mão e o senso de ridículo na sua campanha em favor da deposição do presidente; estão rompidos os nexos com a objetividade

Publicada: 09/08/2017 - 15:30
É claro que eu poderia me poupar do que vem agora, não é?, mas, como sempre, não vou. As edições do jornal “O Globo”, que chegou a ser por um bom tempo o melhor do país a meu ver, estão virando matéria de curiosidade científica. E só não deve acontecer porque os cursos de comunicação, dominados pelas esquerdas, devem lê-lo hoje com prazer, na versão impressa ou online. Afinal, o “Fora, Temer” é a palavra de ordem dos companheiros. Sabem que não deve acontecer. Mas vale como um mantra para manter a tropa unida.
Nota à margem: o veículo integra o maior conglomerado de comunicação do país: jornais, portal, emissoras de TV aberta, emissoras de TV a cabo, rádios e tem interferência fundamental no cinema. E certamente estarei esquecendo alguma coisa nessa ânsia de monopolizar senão os meios, ao menos “os corações e as mentes”, como reza certo clichê antigo. Há quem diga que a realidade é incompatível com uma Constituição devidamente regulamentada. Deixo essa pauta para os aliados de esquerda do grupo. O meu ponto é outro. Vejam esta imagem que recorto da edição Online do jornal.
Manchete principal: “Encontro de Temer com sucessora de Janot foi protocolar, justifica o Planalto”. E no subtítulo: “Raquel Dodge foi recebida no Jaburu, fora da agenda, na noite desta terça, mesmo dia em que o presidente atacou o procurador-geral”.
Vamos ver. O erro, se erro fosse, já está em fazer de um encontro de menos de meia-hora a principal notícia da página. Mas tóxico mesmo é o subtítulo:
– sugere haver algo de impróprio: Raquel foi recebida “fora da agenda”;
– afirma que Temer “ataca” o procurador geral;
– induz o leitor a associar a visita ao suposto ataque.
Vamos aos fatos.
O presidente não é obrigado a divulgar a sua agenda. A lei que trata do assunto, ainda que de modo lateral, é a 12.813, que busca coibir conflito de interesses. No Artigo 11, lê-se:
“Art. 11.  Os agentes públicos mencionados nos incisos I a IV do art. 2º deverão, ainda, divulgar, diariamente, por meio da rede mundial de computadores – internet, sua agenda de compromissos públicos.”
E quais são as autoridades a tanto obrigadas? Transcrevamos os Incisos I a IV do Artigo 2º:
I – de ministro de Estado;
II – de natureza especial ou equivalentes;
III – de presidente, vice-presidente e diretor, ou equivalentes, de autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista; e
IV – do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS, níveis 6 e 5 ou equivalentes.
Como se vê, não estão ali incluídos nem o presidente nem a subprocuradora da República. Logo, para efeitos legais, não existe “encontro fora da agenda” para nenhum deles. Não fosse a lei, há o óbvio: se o presidente quisesse acertar alguma tramoia com a futura titular da PGR, seria forçoso encontrá-la pessoalmente?
Vamos adiante. A defesa de Temer entrou com uma petição pedindo a suspeição do procurador-geral da República. É um direito e uma prerrogativa que lhe conferem as leis que regulam processos, especificamente o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal. Não se trata de um “ataque”. Pergunto: o Globo, por acaso, noticiou que Janot atacava Gilmar Mendes quando pediu a suspeição do ministro no caso Eike Batista? Mais: se Temer recorre contra o procurador-geral, fica impedido de encontrar sua sucessora sem que isso caracterize, sei lá, algo indecoroso ou impróprio?
A Globo pode muito — já pôde mais. Hoje em dia, felizmente para a democracia, não pode cobrar que se cumpram leis que não existem ou que se ignorem as que existem.
Próxima manchete
“Temer é vaiado ao fim de encontro de exportadores”
Subtítulo: “Presidente confirma nota do Planalto de que não haverá aumento de Imposto de Renda”
Vamos lá. Temer participou, no Rio, da abertura do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex 2017). Discursou para mais de 500 pessoas e foi aplaudido quando reiterou que não haverá aumento do Imposto de Renda. Atenção! O protesto se resumiu a seis pessoas. Isto mesmo: seis! O Estadão também resolveu optar pelo absurdo. É este o segundo título em importância na homepage do jornal: “Temer é vaiado em evento no Rio após fala otimista sobre economia”O jornal minimiza a burrada dando manchete para o fato principal: o não-aumento do IR.
Coleguinhas do Estadão, mirem-se na excelência dos editoriais do jornal! Não errarão! A Folha fez a coisa certa: tratou a vaia como detalhe irrelevante do evento. Não está nem na homepage.
O Estadão, a propósito, traz a fala de uma estudante, uma das seis que vaiaram. Diz a moça: “É um absurdo terem arquivado as denúncias contra ele. Contra a Dilma não tinha tantas e a tiraram. Temer não foi eleito, só 5% da população o apoia, e ele não sai. Ele não representa o povo brasileiro”. É um coquetel de notáveis ignorâncias. Bem, setores da imprensa ajudam a formar essas mentalidades.
Ah, sim: “O Globo” já começa a ser ideológico até no erro. Creio que o redator quis dizer que presidente “reafirma” nota do Planalto, em vez de “confirma”, palavra que sugere haver vontades e entes distintos: um seria “O Planalto”, e o outro, o presidente.
Mais uma manchete
“Sob ataques de Temer e Gilmar, Janot é homenageado pelo STF”
Mais uma vez, a palavra “ataque”. E, desta feita, atribuído também a Gilmar Mendes. Então ficamos assim: quando Janot pede a suspeição de Gilmar num determinado caso, está apenas exercendo uma prerrogativa; se quem o faz é Temer e se o alvo é o procurador-geral, este homem sem mácula, aí a coisa muda de figura. Se o titular da PGR acusa um ministro do Supremo de conluio com os poderosos, estamos apenas diante de uma crítica; se o ministro diz que seu detrator não tem qualificação intelectual, bem, aí, então, é um ato de lesa humanidade.
Para lembrar: durante a Operação Patmos, realizada no dia 18 de maio, agentes da Polícia Federal foram instruídos por procuradores da república a procurar, num dos endereços do senador Aécio Neves, “elementos que pudessem incriminar Gilmar Mendes”. Quem revelou a ação criminosa foi o próprio ministro. Nada de fofoquinha de bastidores! E ele disse quem lhe contara tal despropósito: ninguém menos do que Leandro Daiello, o diretor-geral da PF. Mendes fez o óbvio e cobrou explicações de Fachin, que negou de pés juntos que o colega de tribunal fosse um dos alvos.
Eis o herói sem mácula do Grupo Globo.
E vamos para a manchete final do bloco
“Procuradores querem que MPF proíba seus ministros de ter relações com investigados”
Sim, é isso mesmo. Os senhores procuradores agora acham que podem dizer com quem os ministros do Supremo podem e não podem se relacionar. Os moçoilos e moçoilas começaram exigindo poderes de polícia, o que a Constituição não lhes dá; passaram a reivindicar o monopólio da investigação; resolveram dar sentenças informais em acordos de delação e, ora vejam, agora já pretendem determinar com quem ministros do STF podem ou não falar.
Encerro
O Globo já mudou sua homepage desde que comecei a escrever este texto. Agora, a manchete é esta: “Com Temer no Rio, forças de segurança voltam às ruas”. Isso quer dizer que os 10 mil homens das Forças Armadas já se mandaram do Rio e sói voltaram agora para proteger o presidente? Não! Quer dizer que eles atuaram numa operação especial em razão da presença do chefe do Executivo na cidade, como determinam os protocolos.
Ah, sim: na nova edição, o título dedicado às seis pessoas que vaiaram Temer — uma, duas, três, quatro, cinco e seis — mais que quintuplicou de tamanho.
Veículos de comunicação têm de ser livres para adotar a linha editorial que lhes der na telha — inclusive para fazer o que faz o Globo hoje. Mas isso está longe de honrar o jornalismo. E de ser jornalismo. É o que sempre acontece, não importa a tese abraçada, quando um órgão se divorcia dos fatos para aderir a uma causa.

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