Foto: Gilson Ferreira
Em entrevista à editoria de política do Jornal Pequeno (Lourival Bogéa, Oswaldo Viviani, Manoel Santos Neto, Itevaldo Júnior, John Cutrim), o governador Flávio Dino disse que a eleição com Roseana Sarney como candidata a governadora será, segundo ele, “mais saborosa e emocionante”. “Eu gosto de forte emoções. Alguém que torce pelo Botafogo, tem que gostar de emoções fortes…”.
Além do balanço da gestão realizada em 2017, Dino discorreu sobre os investimentos que serão realizados a partir do ano que vem, como o Hospital da Ilha, de urgência e emergência, que será construído na avenida São Luís Rei de França e que atenderá toda a Região Metropolitana de São Luís.
“Nós já abrimos a licitação, que ocorre em janeiro. Vamos usar recursos do BNDS e da Caixa Econômica”, detalhou o governador, que disputará a reeleição no ano que vem. Sobre 2017, o governador falou da instabilidade política nacional e dos desafios da gestão, que mesmo com as dificuldades manteve programas, que ele espera que sejam perenes, como o Escola Digna, a Força Estadual de Saúde e o Mais IDH.
Animado com os indicadores econômicos positivos do Maranhão – mesmo nesses tempos de incertezas econômica e política no país –, o governador anunciou que 2018 ainda vai revelar duas boas novas de 2017 no estado: o avanço no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e um dos maiores crescimentos do PIB no Brasil.
O governador Flávio Dino também falou sobre o rompimento do senador Roberto Rocha. Dino disse que até hoje não entende a razão a qual levou Rocha a tratá-lo de repente como inimigo. O governador falou ainda que nunca quis responder as críticas do senador a ele e a seu governo.
“Agora objetivamente tu me pegunta ‘houve alguma coisa’, não!. Então realmente é uma coisa fora de tom, fora de lógica, é uma coisa mais no terreno da irracionalidade do que uma coisa propriamente racional. E eu vou continuar sem responder ele, diga-se de passagem, a não ser que se de fato ele for candidato a governador, aí claro eu terei que responder, embora eu não acredite que ele será candidato a governador”, declarou.
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JP – E se a ex-governadora Roseana Sarney realmente for candidata ao governo, como o senhor acha que vai ser a eleição?
Flávio Dino – Acho que será uma eleição mais emocionante. Eu gosto de fortes emoções. Alguém que torce pelo Botafogo tem que gostar de emoções fortes… Acho que é uma eleição mais emocionante [com Roseana na disputa], uma eleição mais nítida, muita clara, muito fácil de fazer o contraste. Então, será uma eleição saborosa, eu diria.
JP – A sociedade até hoje não entende bem esse rompimento que houve entre o senador Roberto Rocha, que já foi seu aliado, e o sr. O que realmente aconteceu, afinal?
Flávio Dino – Realmente não sei te explicar, porque a gente era aliado político, não éramos amigos, também não éramos inimigos, ele de repente que começou a me tratar como inimigo, do nada, porque não era critica política, era raivoso. Eu acho que ele foi num crescente talvez o fato de eu nunca ter respondido ele foi se irritando, porque eu nunca respondi. Ele foi para um nível de agressividade pessoal que eu não consigo entender, talvez pelo fato de eu nunca ter respondido e ele se considere tão importante para a política maranhense que eu deveria respondê-lo todos os dias. Ele posta absurdos na internet e eu acho que a resposta mais educada que eu tenho é ignorar, e talvez isso tenha gerado um ciclo de agressividade realmente fora do tom. Tem hora que eu penso que ele está até editando o jornal O Estado do Maranhão, tem hora neh, ou sendo editado pelo Estado do Maranhão [da família Sarney]. Eu não consigo entender direito, agora objetivamente tu me pegunta ‘houve alguma coisa’, não!. Alguma coisa que teve me pedido é politicamente, ideologicamente, seja lá o que eu tenho pedido pra ele, nada.
JP – Na reeleição do prefeito de São Luís Edivaldo Holanda Jr., ele queria que o filho, Roberto Jr, fosse vice do Edivaldo. Não foi isso a causa do rompimento?
Flávio Dino – Eu concordei com o Roberto Jr. de vice, este é o paradoxo, nesta mesa aqui, eu concordei, depois por alguma razão que eu não sei qual foi e também não me vem ao caso, outrem resolveu tirar Roberto Jr. de vice, que não fui eu. E eu tenho a prova objetiva disso, ora se o PCdoB reivindicasse a vice do Edivaldo, por que que eu iria deixar todos os meus secretários inelegíveis? A gente nunca cogitou indicar o vice, nem na prefeitura. Vou te dar um exemplo, o Lula Fylho, que é o atual secretário de Saúde da Prefeitura, é do PCdoB, tava inelegível. Poderia ser vice, não poderia, poderia. O Felipe poderia ser vice, o Marco poderia ser vice, tanta gente, a gente tinha assim 20 nomes que dariam bons vices, todos estavam inelegíveis. Quando eles vieram e disseram não nós queremos que o PCdoB indique o vice porque houve um problema que eu não sei qual foi, nós lembramos por sorte do Júlio Pinheiro que era candidato a vereador, o atual vice-prefeito da cidade. Ele só não estava inelegível por que ele era candidato a vereador e tinha se descompatibilizado do sindicato porque senão até ele estava inelegível. Então essa é a prova que a gente não reivindicava, era um lugar que pra nós a gente não reivindicava. Eu não sei se houve assim algum envenenamento. Ele adotou um caminho próprio, ele já tinha adotado em Imperatriz, sem combinar com ninguém, que foi o ingresso do Ildon Marques no PSB. Parece que houve um desentendimento também dele com o Luciano Leitoa dento do PSB, até o Chico Leitoa fez um artigo explicando isso, uma série de fatores, nenhum atribuíveis a mim. Eu não pedi pra ele votar contra o impeachment da Dilma, acabei de dizer aqui, eu respeito tudo isso, não pedi pra ele, vota assim, vota assado, ele que um dia me ligou e disse ‘vou votar pelo impeachment’, ele me ligou. Eu disse ‘ok, Roberto, eu compreendo as suas razões e tal, seu partido está votando e etc’. Então realmente é uma coisa fora de tom, fora de lógica, é uma coisa mais no terreno da irracionalidade do que uma coisa propriamente racional. E eu vou continuar sem responder ele, diga-se de passagem, a não ser que se de fato ele for candidato a governador, aí claro eu terei que responder, embora eu não acredite que ele será candidato a governador.
JP- Em relação à sucessão presidencial, o senhor acredita que Lula terá condições de sair candidato?
Flávio Dino – Lula tem direito de tentar ser candidato. Acho que ele tem ainda um longo processo pela frente, mas, na minha opinião, ele tem não só o direito como o dever de tentar ser candidato. É um processo difícil, naturalmente. Porque ele já parte perdendo, em face de uma sentença condenatória. Portanto, não é um processo simples.
Eu diria que é possível que ele seja candidato. Não é provável, mas é possível. Acho que ele tem de esgotar todos os recursos que o conduzam a isso, e tenho sustentado isso publicamente.
JP – O senhor é amigo do ex-presidente Lula?
Flávio Dino – Tenho conversado com o ex-presidente Lula. Não me considero amigo pessoal dele. Porque amigo pra mim é uma coisa bem singular: amigo é quem vai na casa da gente, a gente visita na casa dele. Nesse sentido, não. O presidente Lula é para mim, hoje, um aliado político, como eu sou do PT, em termos estaduais. Agora, o que Lula vai fazer em 2018 realmente eu não faço a menor ideia.
JP – Qual deve ser o critério para escolha do candidato à outra vaga ao Senado?
Flávio Dino – Deve ser o mesmo critério, deve ser do mesmo modo que foi o Weverton, que não foi decidido por mim, mas pela imensa maioria dos partidos que hoje me apoiam. Ele teve isso – e isso é mérito dele, ele fez isso sozinho – destaque com uma posição nacional clara no campo anti-Temer. Ele naturalmente ganhou a simpatia do campo anti-Temer, no estado. Mas ao mesmo tempo ele soube – por méritos dele – costurar apoio dos partidos… Então, ele construiu o apoio em torno do nome dele, de um modo tão claro que eu, na verdade, fui declarar o que praticamente já estava pactuado. Por isso foi uma boa escolha, porque foi no tempo certo e do jeito certo. Não foi uma imposição.
E é isso que tenho dito a todos os que se apresentaram como pré-candidatos: tanto para o Waldir Maranhão, como para o Zé Reinaldo e para Eliziane Gama. Todos os três têm suas virtudes, indiscutíveis, seus méritos. É claro que, por exemplo, em relação à figura do Zé Reinaldo sempre há um caminho todo especial de todos nós pela condição dele de ex-governador do Estado, obviamente. Mas é preciso que haja uma construção que sustente esse pleito, de disputar o senado. Eu não posso trair as minha convicções. Eu realmente acho que não cabe mais na política do Maranhão nenhum tipo de coronelismo. Então, não vou ser eu a fazer imposição, como tradicionalmente era feito no estado.
JP – Numa reunião com o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, ocorrida aqui no Maranhão, o senhor teria dito a ele que apoiaria o deputado federal José Reinaldo [de saída do PSB] ao senado, caso ele fosse para o DEM e o DEM se aliasse ao senhor aqui no estado. Isso se confirma?
Flávio Dino – Não foi bem assim. Essa reunião realmente houve aqui no Maranhão. Eu e o Rodrigo somos amigos há muitos anos, fomos deputados juntos, e me foi feita a seguinte pergunta: ‘O fato de o ex-governador Zé Reinaldo se filiar no DEM é um critério que o exclua da chapa do Senado?’ Eu respondi: ‘De modo algum’. E devolvi ao Maia outra pergunta: ‘E o DEM ficará conosco?’ Ele respondeu: ‘Sim, ficará’.
JP – Como o senhor avalia os cenários político e econômico que se esboçam no Brasil para o ano de 2018, quando o sr. tentará a reeleição?
Flávio Dino – Estamos muito tranquilos, muito seguros em relação ao quadro de 2018. É evidente que é sempre uma disputa que temos de travar com imenso cuidado, com atenção, com disposição e com energia. E isso nós temos. Ao mesmo tempo, nós temos indicadores objetivos que nos dão esta tranquilidade. As pesquisas são favoráveis, a avaliação do governo é favorável.
Enfrentamos uma conjuntura especialmente agressiva e hostil. Basta ver a situação de todos os governos no país – desde o governo federal até a maioria das prefeituras. Mas, ao contrário disso tudo, nós conseguimos manter uma situação de equilíbrio fiscal, longe do ideal, mas uma boa situação fiscal, chancelada pela Secretaria do Tesouro Nacional. Além de outros indicadores, conseguimos manter a máquina pública funcionando – o que já é uma conquista, um feito – e ao mesmo tempo com investimentos, políticas públicas novas, políticas sociais, construção de serviços públicos em várias áreas. Em cada tema que se queira abordar, vamos ter resultados melhores do que aqueles que encontramos ao assumir.
JP – Cite um exemplo.
Flávio Dino – A título de exemplo cito o tema da saúde. Nós conseguimos fazer no nosso mandato sete grandes hospitais, em Caxias, Bacabal, Pinheiro, Santa Inês, Imperatriz, Balsas, além do Hospital de Traumatologia e Ortopedia (HTO), em São Luís. São unidades que atendem a milhões de maranhenses. Em 2018, nós ainda teremos muitas entregas. São aproximadamente 200 inaugurações daqui até março, além de tudo o que já fizemos nesse ambiente hostil, agressivo, de crise nacional. Há também as obras novas que vamos começar, como o Hospital da Ilha, para o qual nós já abrimos a licitação, que ocorre em janeiro. Vamos usar ecursos do BNDS e da Caixa Econômica. Então, qualquer que seja a política publica eleita, nós vamos encontrar bons resultados. É isso o que nos dá tranquilidade. Ao mesmo tempo, no terreno político, nós conseguimos ampliar a aliança que tínhamos em 2014. Então, os indicadores são muito favoráveis, mas temos de ter muita atenção e muita serenidade em relação a 2018.
JP – O sr. vai continuar enfatizando sua postura ideológica em 2018, postura esta que vem tomando mais corpo desde a época do impeachment da então presidente Dilma, em 2016?
Flávio Dino – Todo mundo tem de ter postura ideológica, porque é da natureza da vida. Se você não tiver firmeza de ideias, ou morreu ou é um oportunista… Mas chamam o sr. de ‘ultrapassado’, de ‘dinossauro’, por sua ideologia… Dependendo de quem diz isso, até enriquece meu currículo…
JP- A esquerda tradicional não está ultrapassada?
Flávio Dino – Qual esquerda tradicional?
JP – O comunismo do PCdoB, por exemplo.
Flávio Dino – Você provavelmente está se referindo ao comunismo do PCdoB de 30, 40 anos atrás, mas se você for ler os textos atuais, você vai ver que eles têm uma aguda reflexão sobre a realidade brasileira. O nosso partido, o qual eu orgulhosamente integro, fez uma revisão de algumas ideias, como a adaptação de modelos nos diferentes países, que se revelou um enorme equívoco, como o modelo albanês ou o chinês. Mas há pelo menos uns 10 anos que o PCdoB reviu essas visões. Eu tenho muito orgulho de ser um político de convicções. Acho que isso é necessário para o Brasil, e no caso do Maranhão acho que às vezes há até uma certa estranheza, porque [ter convicções políticas] é raro.