sábado, 2 de dezembro de 2017

Após usar roupas masculinas, mulher trans se prepara para assumir imagem feminina no trabalho


 

Danielle Scarlat Moreira Silva é analista no Hospital do Barreiro, em Belo Horizonte. A partir de janeiro, ela vai usar vestidos, maquiagem e salto no ambiente profissional.

Por Thaís Pimentel, G1 MG, Belo Horizonte


Mulher trans, Dany Scarlat passou quase três anos vestindo roupas masculinas no trabalho. (Foto: Danielle Scarlat Moreira Silva/Arquivo pessoal)Mulher trans, Dany Scarlat passou quase três anos vestindo roupas masculinas no trabalho. (Foto: Danielle Scarlat Moreira Silva/Arquivo pessoal)
Mulher trans, Dany Scarlat passou quase três anos vestindo roupas masculinas no trabalho. (Foto: Danielle Scarlat Moreira Silva/Arquivo pessoal)
do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, o Hospital do Barreiro, em Belo Horizonte, e todos os dias aparecia no escritório de calças e camisas largas, cabelo preso e tênis. Mas a partir de janeiro de 2018, quando voltar de férias, Danielle Scarlat Moreira Silva vai usar seus vestidos, sua maquiagem e seus sapatos de salto alto também no hospital.
“Chega. Cansei”, disse a mulher trans. Na infância em Águas Formosas, no Vale do Mucuri, Dany já se percebia menina. “Eu sempre me identifiquei com coisas de mulher. Eu me via como menina quando eu era criança. ‘Sou uma menina’, eu dizia. Mas aí, quando virei adolescente, foi a pior fase. Achava que era um homem normal, mas eu era muito infeliz”, contou.
Anos depois, já em Belo Horizonte, Dany se aceitou e se assumiu. Colocou seios e passou pelo tratamento hormonal. Após acompanhamento psicológico, ela decidiu não fazer a cirurgia de mudança de sexo. “Sou feliz assim. Sou feliz como sou”, disse.
Técnica contábil há dez anos e registrada no Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais, Dany se candidatou para o cargo de coordenação da área no Hospital do Barreiro. Com medo de represálias, ela participou da seleção com roupas masculinas. “Quando eu entrei aqui já tinha seios quis passar pelo processo seletivo. Mas sempre soube que mais tarde, provando que sou competente e profissional, eu iria assumir”, disse ela.
Uma semana depois de conseguir a vaga, Dany, que nunca escondeu seus trejeitos, disse para os colegas e para o Departamento de Recursos Humanos que era uma mulher trans assumida. “A questão da roupa era mais uma adequação ao trabalho. Medo de perder o emprego. Era uma insegurança. Eu amarrava os seios para ir trabalhar. Tinha gente que achava que eu era lésbica (risos)”, contou ela.
O Hospital do Barreiro informou que o Departamento de Recursos Humanos está preparando os funcionários para que Dany seja bem recebida a partir de janeiro. Uma campanha interna sobre respeito foi realizada para fazer com que ela se sinta à vontade no ambiente de trabalho sendo apenas si mesma.
Danielle é uma exceção. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 90% deste público trabalha com prostituição no Brasil. Só neste ano, 178 homens e mulheres trans foram assassinados no país. O dado é da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil.
“Histórias como a minha são importantes para que os empresários confiem e deem oportunidades para mulheres trans e homens trans. Nos sexualizam demais. Eu não assumi novinha pelo fato de não arrumar emprego e cair na marginalidade como último refúgio. Precisamos trabalhar, precisamos aposentar e não viver em plena prostituição. Chega!”, disse Dany.

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