Um mês após ser inocentado pelo Tribunal do Júri do crime de homicídio, Railson da Silva Marques, 34 anos, se prepara para entrar com uma ação por danos morais contra o Estado do Amazonas. Preso por um ano e oito meses após ser confundido como o verdadeiro autor do crime, ele quer ser indenizado, já que agora enfrenta dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho. O caso foi revelado por A CRÍTICA na edição do último domingo.
Além da dificuldade de emprego formal, Railson relata os problemas de saúde, psicológicos e familiares que tem enfrentado após os quase dois anos preso injustamente. “Minha mulher me deixou e hoje eu não tenho como ajudar a criar meus filhos. Eu passei todo esse tempo em um ambiente que não era seguro e que deixou traumas em mim”, afirma.
Mesmo ciente da demora que um novo processo pode ter, Railson não pensa em desistir. “Eu sei que pode demorar, mas eu paguei por um crime que não cometi. Dinheiro não é o que vai resolver tudo o que passei, mas vai ajudar a eu me estabelecer financeiramente enquanto reconstruo minha vida”.
O advogado Sidney Souza, que agora é responsável pelo caso, deve protocolar a ação na Vara da Fazenda Pública Estadual ainda este mês a pedido do próprio Railson. “Nós entendemos que houve um descaso do Estado, representado pelo Judiciário. E essa situação é ainda mais grave porque Railson só conseguiu comprovar o erro já no Tribunal do Júri, sendo que, se os defensores tivessem sido ouvidos anteriormente, ele não teria passado uma semana na cadeia”.
Sidney afirma ainda que um dos argumentos utilizados para mover a ação é o fato de que Railson e os advogados apresentaram as provas de que ele era homônimo ao acusado de homicídio. “Na época havia como apresentar que os nomes da mãe eram diferentes, o Cadastro de Pessoa Física também era diferente. E isso não foi aceito, não foi analisado, sequer foi considerado. Ele passou quase dois anos esperando para ser julgado”, relembra. A ação vai cobrar indenização de R$ 150 mil, baseada em parâmetros dos jugulados do Supremo Tribunal Federal (STF), diz o advogado.
Em agosto de 2016, Railson estava voltando do trabalho a caminho de casa, quando foi abordado em uma barreira policial. “Eles foram logo me agredindo, usando palavrões e fazendo questionamentos como se eu fosse criminoso. Pediram minha identificação, foram na viatura fazer a consulta de antecedentes e já voltaram me dando ordem de prisão por homicídio e continuaram a violência física e psicológica (...) Eu estava com as fotos e os documentos dos meus filhos, tentei explicar que era pai de família, que não fazia ideia do que eles estavam falando. Eu nunca tive nem arma de fogo”, lembra Railson.
Salvo após fala
Após ser preso, Railson disse que a situação só piorou. “Na delegacia, me fizeram assinar a confissão de homicídio. Eu tentei contestar, mas fui realmente obrigado a fazer isso. Caso contrário, eu não teria direito a advogado”, afirmou. Em seguida, Railson foi levado ao Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), onde esperou o julgamento.
A série de atos equivocados só foi interrompida nos minutos finais do seu julgamento. “Eu preciso dormir tranquilo. Não foi esse homem que matou meu filho e, se eu não falar isso agora, ele irá ser condenado e eu não me perdoarei por isso”, afirmou o pai da vítima, no julgamento, ocorrido em 26 de março deste ano, quase dois anos após a ordem de prisão.
Railson era operador de máquinas industriais, casado, e é pai de três filhos, uma menina (12 anos) e dois meninos (9 e 15 anos). Atualmente, está desempregado, divorciado e seus filhos estão morando longe.
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