Eduardo KattahEstadão
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa (PSB) continua sem declarar se disputará ou não o Palácio do Planalto, mas já tem esboçado os pilares do discurso que deverá adotar em uma eventual campanha. O ministro aposentado ainda tenta se acostumar ao assédio após ingressar pela primeira vez em um partido político e entrar no rol dos presidenciáveis. Barbosa acompanha com mais atenção a curiosidade em torno de suas posições e suas alegadas fragilidades: o temperamento muitas vezes explosivo e a falta de experiência administrativa. O segundo ponto lhe incomoda mais.
Doutor e mestre em Direito Público por universidades francesas, Barbosa reclama que tem uma vasta carreira e conhece a administração federal do Brasil como poucos. Antes de sua nomeação para o Supremo – onde ficou por 11 anos –, ele foi integrante do Ministério Público Federal de 1984 a 2003, com atuação em Brasília e no Rio. De 1985 a 1988, trabalhou no Executivo ao chefiar a consultoria jurídica do Ministério da Saúde.
EXPERIÊNCIA – “Conheço muito bem o Estado brasileiro, suas virtudes, seus defeitos, visíveis ou invisíveis. Nele trabalhei desde muito jovem, nas mais diversas esferas, dos níveis mais modestos aos mais elevados”, afirmou Barbosa ao Estado.
Desde que se filiou ao PSB, há 20 dias, o ex-ministro recebeu diversos convites de economistas e escolas, dispostos a entender o que ele pensa sobre o tema. Segundo interlocutores, Barbosa tem pouca familiaridade com economistas nacionais e costuma se informar por meio da leitura de autores estrangeiros.
Acompanha semanalmente os artigos do americano Paul Krugman, professor da Universidade de Princeton, vencedor do Nobel de Economia de 2008 e colunista do The New York Times. Krugman é um adepto do keynesianismo, teoria baseada nas ideias do inglês John Maynard Keynes, que defendia a ação do Estado na economia.
FUKUYAMA E PIKETTY – O ex-ministro também é admirador e leitor de Francis Fukuyama, cientista político e economista que foi um dos ideólogos do governo Ronald Reagan nos Estados Unidos, além de autor de best-sellers. Um terceiro nome que Barbosa costuma citar em rodas de conversa é o economista francês Thomas Piketty, que ganhou fama internacional em 2013 com seu livro “O Capital no século XXI”.
No ano passado, o ex-presidente do Supremo se encontrou com Eduardo Giannetti para tratar do cenário eleitoral, mas a intenção do economista ligado a Marina Silva era tentar uma aproximação dele com a pré-candidata da Rede. “Conversamos de tudo, menos economia”, disse Giannetti, que saiu do encontro convencido de que uma dobradinha Marina-Barbosa se mostrara “inexequível”.
A decisão sobre uma candidatura presidencial ainda é um dilema pessoal para o ex-ministro. Após deixar o Supremo, ele passou a atuar como advogado focado na elaboração de pareceres jurídicos. A experiência na mais alta Corte do País e o notável currículo acadêmico lhe garantem alto rendimento financeiro.
ANSIEDADE – A indecisão de Barbosa deixa o PSB “ansioso”. A bancada do partido na Câmara vai divulgar um manifesto para pressionar o ex-ministro a lançar logo a pré-candidatura.
“(Barbosa) tem demonstrado identidade com valores caros ao ideário do PSB, como a defesa de uma sociedade plural, humanista, inclusiva e diversa, sem preconceitos”, afirma o texto.
Nos cenários do mais recente levantamento do Datafolha, que incluem ou excluem Lula, o ex-ministro alcança de 8 a 10 pontos porcentuais e fica à frente ou empatado (dentro da margem de erro) de pré-candidatos já consolidados como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).
SUBINDO EM SÃO PAULO – Na pesquisa Ibope/TV Bandeirantes divulgada nesta terça-feira, 24, e feita com eleitores do Estado de São Paulo – maior colégio eleitoral do País, com 33 milhões de votantes –, Barbosa chega a 10% da preferência, empatado tecnicamente com Marina em cenários sem Lula.
Antes de se filiar ao PSB, no início de abril – prazo final da legislação –, Barbosa conversou com dezenas de interlocutores por cerca de um ano. No momento, segundo pessoas próximas, sua maior preocupação é evitar que uma candidatura seja tratada como automática caso seu nome continue bem avaliado nos levantamentos eleitorais. O ex-ministro ainda joga com o tempo. (Colaboraram Breno Pires, Igor Gadelha e Circe Bonatelli)
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