segunda-feira, 3 de junho de 2019

Ala dos generais do Planalto preocupa-se com o Twitter e com Olavo de Carvalho

 

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Charge do Genildo (Arquivo Google)
Pedro do Coutto
Reportagem de página inteira de Vinicius Sassine e Bernardo Mello, edição de ontem de O Globo, focaliza as preocupações com o desempenho e rumo do governo e destaca que os generais mantém atenção essencial no uso do Twitter pelo presidente Jair Bolsonaro. E também por sua dubiedade em relação a Olavo de Carvalho, considerado pelos generais como um extravagante ideólogo da direita, que por diversas vezes atacou os militares do governo ofendendo-os com xingamentos.
Os generais ouvidos por Vinicius Sassine e Bernardo Mello concordaram em dar declarações desde que não tivessem seus nomes revelados.
DESCONTENTAMENTO – A reportagem é muito mais importante do que normalmente se possa pensar. A meu ver, constitui forte sinal de um processo de descontentamento, que começa a se tornar visível no convés da nave do poder. A reportagem cristalizou essa certeza.
Um dos generais, inclusive, pediu serenidade ao presidente da República: “Você não precisa dos radicais”. Tal frase só se tornou possível com base em forte amizade, pois, caso contrário poderia ser interpretada como uma ameaça.
As frases e até as palavras, digo eu, possuem entonações que variam de uma situação para a outra. Os generais estão atentos e se preocupam com a responsabilidade em torno dos tropeços do presidente.
NUVEM DE CONFLITO – A reação às interferências de Olavo de Carvalho acentua uma divergência, envolvendo-os numa nuvem de conflito entre o professor da Virgínia e os setores mais próximos do poder. Mas as preocupações não se esgotam nesse patamar, embora bastante críticas. Duas outras questões se colocam. São elas: a liberação de armas de fogo e a troca de cargos no Ministério da Educação.
Um general afirmou: como ficariam as forças armadas se recebessem a pecha de terem contribuído e terem sido responsáveis pela venda de armas de fogo?
O mesmo general acrescentou: os militares torcem para o governo dar certo. Caso contrário, os militares serão criticados a respeito de como os salvadores da Pátria falharam.
ENTREVISTAS – Após a ironia leve as entrevistas se sucederam. O Comandante do Exército Edson Leal Pujol é da mesma turma de Jair Bolsonaro na Academia de Agulhas Negras, como o general Otávio Rego Barros. Também por coincidência os generais Augusto Heleno, Carlos Alberto Santos Cruz e Floriano Peixoto já integraram forças de paz em atuação no exterior.
O general Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar disse que os tempos agora são outros, o que contribui para o perfil moderado dos oficiais que participam diretamente no governo.
Como expuseram Vinicius Sassine e Bernardo Mello, que realizaram as entrevistas, todas as declarações não foram proferidas de uma só vez.
MUITA PREOCUPAÇÃO – A atmosfera de Brasília não é de calmaria, ao contrário, é de preocupação. Essa preocupação cuja existência já se sentia nas ruas, passou a ter forma e tom. Para atestar tal situação basta ler e reler a redação final da matéria.
Então na releitura surge de forma cristalina a reação negativa principalmente contra Olavo de Carvalho, personagem sombrio do processo democrático. E como os generais o acusam de provocar a dubiedade, tal assertiva se encontra tanto na posição do presidente Bolsonaro quanto nas mensagens do filósofo da Virgínia.
A reportagem de página inteira representa uma análise que traduz e ilumina uma verdade até então oculta no sistema de poder.

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