segunda-feira, 2 de setembro de 2019

“Foi coisa do capeta”, diz pai de Anderson, assassino do professor

 

Em entrevista ao Metrópoles, Eduardo Monteiro afirmou sentir tristeza profunda e presta solidariedade à família de Bruno

André Borges / Especial para o MetrópolesANDRÉ BORGES / ESPECIAL PARA O METRÓPOLES
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A família de Anderson da Silva Leite Monteiro, assassino confesso do professor Bruno Pires de Oliveira, 41 anos, em Águas Lindas de Goiás (GO), não era capaz de disfarçar a tristeza que o caso levou para dentro de casa. Três dias após o trágico crime, que ainda é o assunto mais comentado na cidade, a mãe do acusado, dona Maria Monteiro, não sai do quarto. Está de cama. Quem recebeu o Metrópoles, neste domingo (01/09/2019), na residência do estudante foi o pai dele, o aposentado Eduardo Monteiro, 60. Ele aceitou falar, mas sem abrir a cerca improvisada de arame que divide o lote.
Durante duas horas, a reportagem rodou o município goiano até conseguir localizar a família de Anderson: a casa bem simples foi construída num local de chácaras, no bairro Água Bonita, próximo ao residencial Bethel. Com acesso apenas por estrada de terra batida, o endereço é um dos últimos terrenos aparentemente habitados da rua e fica a cerca de 5km do Colégio Estadual Machado de Assis (Cema), onde o crime aconteceu. “Meu filho é um menino de família”, disse prontamente o pai. Receoso sobre dar entrevistas, Eduardo decidiu, após insistência, conversar sobre o caso e explicar o sofrimento que se abateu sobre a família.
“Eu queria chegar à família dele [do Bruno], porque não tenho como falar diretamente, e dizer que do jeito que eles estão sofrendo, nós também estamos. O Bruno era muito amigo. O Anderson não é disso, nunca foi, e eles devem saber disso. Meu filho é um um garoto de igreja. Toda terça-feira, ele ia a um encontro dos jovens da Igreja Universal. Se eles sofrem, a gente também sofre, né? Mas quero muito deixar meus sentimentos [a eles]”, emocionou-se antes de terminar a frase. 
Segundo Eduardo Monteiro, o contato entre Anderson e o coordenador pedagógico da escola era frequente. “Eu mesmo estive com o Bruno dois dias antes dessa situação e o [professor] Bruno estava falando bem dele [Anderson] para mim. O sentimento que eu tenho é que ele foi influenciado. Não sei por quem, mas foi coisa do capeta”, acusou. O pai não acredita na tese de que o filho agiu sozinho no homicídio.
Pelo WhatsApp
O aposentado revelou ter tomado conhecimento da ocorrência pelo próprio filho, por meio do WhatsApp. “Ele me mandou uma mensagem e escreveu: ‘Pai, eu fiz merda’. E eu perguntei: ‘Que merda foi essa, meu filho?’. Ele não respondeu e eu tratei de ligar no colégio. Assim que atenderam e me identifiquei, fui informado de que ele tinha esfaqueado o professor Bruno. Eu não consigo acreditar até agora. É muita tristeza”, falou, ao limpar as lágrimas dos olhos.
Durante a conversa, a residência da família recebeu a solidariedade de amigos e da vizinhança. Uma das visitas aceitou falar com a reportagem. “Como mãe, não gosto nem de pensar o que a Maria [mãe de Anderson] está passando. Eu vou falar uma coisa para você: tem dois anos que somos vizinhos aqui e ele é um menino de ouro. Eu não sei se ele surtou ou se aconteceu alguma coisa com ele. É raro eu vir aqui, mas toda vez que eu chego ele não sai de perto de mim. Para mim, é como um filho”, afirmou Zelina Alves Rabelo, 57. Ela possui um terreno, ainda não habitado, ao lado esquerdo da chácara da família. 
Eduardo Monteiro alega estar sofrendo com o julgamento das pessoas. “Na hora que um crime desse acontece, ninguém quer saber quem são os envolvidos. Só procuram saber de um lado, mas não se preocupam em descobrir de quem o suspeito é filho, se é de família, se os pais são trabalhadores…Eu sei que a família do Bruno está sofrendo, ninguém queria isso. Só pode ter sido por impulso. Meu garoto não é um vagabundo, nem criminoso. Todo mundo aqui da cidade sabe quem é o Anderson”, frisou o também evangélico.
Cena do crime
Antes da conversa com o pai de Anderson Monteiro, a reportagem também passou na porta do Colégio Estadual Machado de Assis. Desde que o crime ocorreu, o governador Ronaldo Caiado (DEM) decretou 7 dias de luto na unidade de ensino. Na porta do local, neste domingo (01/09/2019), alguns alunos ainda paravam para ler as inúmeras mensagens afixadas no portão de entrada. “Ele era muito tranquilo. Estudamos no mesmo turno ano passado, até ele ir para a tarde. Sempre foi um cara do bem”, lembrou o menor R.S.P, 16, que passava pelo local.
Ele fez questão de mostrar os cartazes colados na entrada da unidade, todos lamentando a perda do professor Bruno, tido como um “profissional sério e firme”. “Ele era muito legal com os alunos, mas mantinha uma relação de respeito. Não deixava que fizessem piada, mas também era muito divertido. Muitas vezes, ele fazia coisas que nem eram de responsabilidade dele dentro da escola. Até vi uma vez ele trazer uma máquina de solda para arrumar uma grade da janela”, afirmou outra estudante, K.L, à reportagem. 
“Dói muito dizer-lhe adeus, professor, mas resta o consolo de saber que sua marca neste mundo nunca desaparecerá”, escreveram no cartaz os alunos dos 3ºs anos “A” a “B” da unidade estadual de ensino.
ÁNDRÉ BRANDÃO / ESPECIAL PARA O METRÓPOLESÁndré Brandão / Especial para o Metrópoles
Alunos passam em frente ao Colégio Estadual Machado de Assis para ler homenagens ao professor assassinado
“Susto”
Anderson da Silva Leite Monteiro, 18, confessou o assassinato do professor Bruno Pires de Oliveira, 41, no Colégio Estadual Machado de Assis (Cema), em Águas Lindas de Goiás (GO), Entorno do DF. O acusado foi transferido neste domingo (01/09/2019) para a cadeia pública da cidade, mas rapidamente foi transferido. Aos agentes, garantia estar “arrependido” de ter tirado a vida do educador com uma facada.
O estudante estava isolado em uma cela e não está descartada uma nova transferência dele, uma vez que foi hostilizado pelos demais presos assim que chegou. Após as ameaças, Anderson foi transferido novamente para Valparaíso (GO), outro município, onde ficará mais seguro. 
Segundo a Polícia Civil de Goiás, Anderson será indiciado por homicídio doloso consumado qualificado, em virtude de motivação fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima, e pode pegar pena de até 30 anos de prisão
De acordo com o delegado Cléber Junio, da regional de Águas Lindas e titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Anderson confessou a autoria do crime e alegou que queria dar um susto no professor, cortando a barriga do docente. Porém, a faca acabou perfurando o abdômen da vítima de forma fatal.
Anderson teria dito, ainda, que foi conversar com Bruno Pires e pedir uma chance de ser reintegrado ao programa Mais Educação. Na versão do estudante, o professor teria dito que ele seria “um vacilão”, ocasião em que sacou a faca da cintura e desferiu o golpe contra o educador na sexta-feira (30/08/2019). A conclusão do Inquérito Policial deve ocorrer nesta semana, sendo que ainda serão feitas outras oitivas pertinentes ao caso e juntada de laudos perícias. 
Anderson não apresentou advogado e o caso será comunicado à Assistência Jurídica da Comarca de Águas Lindas. A PCGO informou que ele não tem passagens policiais.
O jovem teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Goiás no sábado (31/08/2019) e, por isso, não será necessário passar por audiência de custódia. Após esfaquear Bruno, o aluno fugiu e foi detido um dia depois do crime, em Nova Roma, na região de Posse, ao norte de Goiás. A propriedade é de um tio de criação de Anderson. Uma denúncia anônima levou a Polícia Militar do estado à fazenda em que ele estava escondido.

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