Aguirre Talento e Paula Ferreira
O Globo
O clima nos grupos de discussão do Ministério Público Federal (MPF) passou a ser de revolta e críticas ao procurador-geral da República Augusto Aras após os ataques feito por ele a colegas em sessão do Conselho Superior do MPF na noite de sexta-feira. As manifestações têm partido principalmente de procuradoras, que saíram em defesa da subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen, alvo de um dos ataques de Aras.
As procuradoras acusam o procurador-geral de ter sido machista em seus ataques a Luiza Frischeisen, que não tem filhos. A repercussão interna do episódio ampliou o desgaste de Aras.
DISSE ARAS — “Enquanto eu estava aqui, havia perguntas de um determinado blog contaminado com muitos vícios, talvez com medo até de investigações por vir, questionando sobre a minha família. Quero dizer, doutor Nicolao, que o senhor não vai gostar de nenhuma fake news sobre a sua família. E muito menos a doutora Luiza, que talvez não tenha família, mas talvez tenha. Doutor Adônis muito menos. Mas enquanto eu estava aqui eu estava recebendo uma ataque à minha família e provavelmente saiu daqui” — afirmou Aras, em tom de irritação.
Desde a noite de sexta-feira, procuradoras e procuradores fizeram críticas a Aras nos grupos internos por causa de seus ataques e realizaram manifestações de solidariedade à subprocuradora Luiza Frischeisen, que já foi coordenadora da Câmara Criminal do MPF e foi segunda colocada na votação interna da lista tríplice para o cargo de PGR — Aras foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a PGR sem ter concorrido à lista.
RESPOSTA A ARAS – “Car@s colegas, todos que assistimos à sessão de hoje do conselho temos nossas razões para lamentar. Mas queria fazer um registro nesse grupo em especial. A fala do PGR, referindo-se a Luiza como uma pessoa “sem família”, me soou profundamente machista, agresiva e misógina. Estou muito revoltada (também com isso. O que o PGR quis dizer com isso? Qual a ideia que ele tem de família? De mulheres?” escreveu uma procuradora em um grupo.
“Eu assisti. Fiquei estarrecida e muito triste por ouvir isso de um PGR. Foi, sim, misógino e agressivo. Me ofendeu profundamente. Já manifestei diretamente a Luiza minha irrestrita solidariedade, mas registro aqui também”, respondeu outra colega do MPF.
Uma terceira procuradora classificou a declaração de Aras de sórdido ataque: “Quando o PGR te ataca, ataca todas as mulheres. Aliás, a carta que supostamente o ofendeu e irritou também foi assinada por outros conselheiros, mas ao proferir uma ofensa a Luiza, o PGR deixa claro que, além de não gostar de receber críticas, não admite que sejam feitas por mulheres”, escreveu.
A MAIOR CRISE – Procuradores também entraram na discussão e manifestaram apoio. O subprocurador-geral da República Mario Bonsaglia, que foi o mais votado na lista tríplice ao cargo de PGR e é opositor de Aras, afirmou que a instituição “vive a maior crise de sua história”.
“Muita coisa pode ser dita com relação à sessão de ontem do CSMPF, mas, em primeiro lugar, é preciso repudiar a fala misógina com que o PGR dirigiu-se à colega Luiza. Sobre isso já me manifestei logo após a sessão em alguns grupos e apresentei diretamente à própria Luiza a minha solidariedade. Essa fala do PGR, voltada especificamente contra Luiza e atingindo as demais mulheres que integram o MPF, causa indignação também a todos os homens comprometidos com a igualdade e a defesa dos direitos humanos”, escreveu Bonsaglia em um dos grupos.
Prosseguiu em sua mensagem: “Numa instituição como o MPF, ataques dessa natureza são particularmente inaceitáveis. Os acontecimentos de ontem no conselho, é preciso ressaltar, se contextualizam em função do momento pelo qual passa o MPF Nossa instituição vive a maior crise de sua história, com seguidos ataques aos princípios fundamentais que regem o Ministério Público e uma clara e arrogante tentativa de centralização hierárquica e de cunho autoritário”.
MAIS SOLIDARIEDADE – Em uma rede social, a procuradora regional Janice Ascari, coordenadora da Lava-Jato em São Paulo, também manifestou apoio à colega:
“Minha solidariedade incondicional à amiga e colega subprocuradora-geral @LuizaFrischeis1, vítima de um ataque machista nesta data. Tempos muito difíceis, mas tudo vai passar. Sigamos, minha amiga.”
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), integrante do movimento “Muda Senado” e que participou de videoconferência com Aras nesta semana para questioná-lo sobre as críticas à Lava-Jato, também se manifestou sobre a reunião do conselho superior. “Não bastasse querer sepultar a Lava-Jato, quer fazer o mesmo com a reputação de uma das mais respeitáveis servidoras do MPF, através de insinuações descabidas a respeito de sua vida pessoal. Nosso apoio e deferência à doutora Luiza e ao seu trabalho”, disse em nota.
CONTRA A LAVA JATO – Na terça-feira, durante uma live com advogados, o procurador-geral teceu críticas à força tarefa da Lava-Jato em Curitiba e afirmou que o grupo funciona como “uma caixa de segredos”. As afirmações geraram reação de subprocuradores-gerais da República no Conselho Superior do Ministério Público Federal na última sexta-feira.
O subprocurador Nicolao Dino, um dos opositores de Aras no conselho, leu uma carta aberta assinada por mais outros três conselheiros do órgão, na qual afirmaram que as declarações do procurador-geral “alimentam suspeitas e dúvidas” sobre a instituição e geram um MPF “desacreditado, instável e enfraquecido”.
Diante das críticas, Aras subiu o tom. O procurador-geral disse ser alvo de fake news e reafirmou suas acusações à Lava-Jato, dizendo ter provas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Aras é um farsante, que está de olho na vaga no Supremo e procura bajular Bolsonaro. Aras não tem provas de nada do que fala. Se tivesse, já teria mostrado. Tenta inviabilizar a Lava Jato, mas não conseguirá. O resto é folclore. (C.N.)
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