Pedro do Coutto
Na tarde de domingo, logo após votar na eleição do Rio, o presidente Jair Bolsonaro. ao responder a uma pergunta de um dos repórteres, afirmou não ter dúvida de que as eleições norte-americanas foram fraudadas, razão pela qual ele aguarda a decisão final da Justiça dos EUA. Com isso ele bateu seu próprio recorde em matéria de equívocos e de investidas excêntricas para dizer o mínimo. A curta entrevista colocada no ar pela TV Globo foi motivada por uma resposta inclusive comentada por William Bonner.
O apresentador da TV Globo dez questão de esclarecer que o presidente da Republica fez esta afirmação sem qualquer prova concreta.
CONSTRANGIMENTO – A observação de Jair Bolsonaro sem dúvida causou mal estar nos EUA, porque sustentar que as eleições foram fraudadas significa que o país não teve capacidade de realizá-las de forma limpa e de punir os fraudadores.
Bolsonaro esqueceu que todos os recursos até o momento acionados pelo residente Trump foram rejeitados pela Justiça. No caso de Michigan, Georgia e Pensilvânia, as recontagens confirmaram a vitória de Joe Biden.
Em consequência, o presidente Donald Trump assumiu um papel incapaz de ser levado a sério e causou perplexidade, não só nos EUA como também nos países cujos presidentes e primeiro-ministros pensam o contrário do que pensam Bolsonaro e Trump.
RIDÍCULO E GROTESCO – Trump expõe os EUA a uma situação entre o ridículo e o grotesco. Nunca na história americana aconteceu esse tipo de revolta pelos presidentes que não conseguiram se reeleger. Casos de Nixon, em 1960, quando perdeu para Kennedy, tampouco George Bush, que foi derrotado por Bill Clinton, assim como Jimmy Carter, que perdeu para Ronald Reagan. Portanto, a investida de Trump vai de encontro ao regime democrático e à tradição das campanhas eleitorais para presidente da República.
Joe Biden inclusive já formou praticamente seu governo, convocando pessoas de sua confiança para postos-chaves da administração. Indicou também a nova representante do país na ONU. A equipe do presidente que assume a 20 de janeiro já se encontra em atividade para traçar o projeto básico para os próximos quatro anos, em transição autorizada por Trump na segunda-feira da semana passada.
CASO DIPLOMÁTICO – Ao afirmar que as eleições pela Casa Branca foram fraudadas o presidente Bolsonaro projetou um quadro anárquico na legislação dos EUA. Sua investida pode criar um grave caso diplomático porque no fundo contém uma desconfiança na capacidade americana de cumprir a lei e a ética.
Na mesma entrevista, o presidente Bolsonaro acentuou que tem desconfiança no sistema brasileiro, no qual as urnas eletrônicas têm um papel decisivo. Mas o ministro Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, rebateu indiretamente a desconfiança de Bolsonaro. E acrescentou um toque irônico, ao dizer que Trump envereda por um estranho caminho, que expõe o país a uma reação mundial.
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