Giuliana de Toledo e Sérgio Roxo
O Globo
Depois que o Instituto Butantan cobrou o governo federal de uma resposta até o fim desta semana para a compra de 54 milhões de novas doses de CoronaVac, o Ministério da Saúde disse que, por contrato, pode dar a resposta até maio.
Cientistas ouvidos pelo O Globo, no entanto, argumentam que é um erro esperar até o último minuto para confirmar a aquisição do imunizante, já que a pandemia do novo coronavírus está avançando e o objetivo, neste momento, é vacinar o maior número de pessoas.
SEGUNDO LOTE – O mais novo cabo de guerra entre Estado de São Paulo e governo federal por causa da vacina contra Covid-19 começou nesta quarta-feira, dia 27, quando o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que espera até sexta-feira uma definição do Ministério da Saúde sobre a aquisição de um segundo lote do imunizante — em janeiro já foram compradas 46 milhões de doses feitas pelo instituto paulista, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
“Oficiei ao Ministério da Saúde na semana passada e aguardo até o final desta semana. Na semana que vem vou fechar os contratos com outros países, a começar pela Argentina”, disse Covas. A pasta respondeu que, por contrato, pode se manifestar sobre essa questão até maio.
O acordo diz que “é concedida à contratante a opção de adquirir mais 54 milhões de doses de vacinas em cronograma a ser definido, apresentando seu interesse no prazo de até 30 dias após a entrega da última parcela”, prevista para 30 de abril. A demora no posicionamento, no entanto, pode atrapalhar a imunização dos brasileiros, alertam especialistas.
SEM SENTIDO – Sergio Cimerman, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico do Emílio Ribas, disse que não tem sentido o governo demorar para informar se pretende ou não comprar novas doses.
“O governo tem que comprar (as novas doses da CoronaVac). Não tem vacina para todo mundo. Só temos duas vacinas. A vacina de Oxford tem 100 milhões de doses, que permitem imunizar 50 milhões de pessoas. Mas a nossa população é de 212 milhões. No meu modo de ver, não tem sentido essa posição do governo federal”, afirma.
PRIORIDADE – Para Márcio Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, a posição do governo federal “não tem lógica”. “Não é razoável responder no último dia. Vamos precisar de 400 milhões de doses no Brasil, e não temos nem 100 milhões ainda. Nossa maior prioridade é vacinar o maior número de pessoas o mais rápido possível. Esse é um erro que custa caro, em vidas”, diz.
Bittencourt lembra que outros países, como o Canadá, compraram até seis doses por pessoa. “Não é aceitável demorar para comprar uma vacina produzida pelo Brasil, de uma instituição que vai te entregar e não vai te passar a perna, e até já certificada pelo governo”, afirmou.
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