Desde que a Civilização chegou ao estágio em que os guerreiros pararam de arrancar as cabeças dos adversários a golpes de espada, o mundo compreendeu que mesmo nas guerras a ética deve ser mantida.
Vencer o inimigo pode representar privá-lo de liberdade, tomar seu território, suas propriedades, mas não aniquilá-lo.
Por isso, práticas como a tortura se tornaram inadmissíveis.
Esse entendimento já prevalecia em guerras, batalhas e guerrilhas antes de ser eternizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que há poucos dias completou 72 anos.
"Ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes", diz o artigo 5º.
Além do aspecto institucional, há também uma abordagem moral. Qualquer um que se aproveite de um adversário subjugado pela força para torturá-lo ou submetê-lo a humilhação está praticando ato de covardia.
Como se sabe, esse tipo de crueldade foi bastante usado na história recente do Brasil por agentes do Estado durante a Ditadura Militar.
Uma das pessoas a cair nas garras dos torturadores foi Dilma Rousseff. Ela sofreu sevícias no Rio de Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais.
Na prisão mineira, Dilma foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária. Está tudo registrado em documentos coletados pelo Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG) e revelados em 2012 pela jornalista Sandra Kiefer, do jornal Estado de Minas.
O episódio de barbárie foi relembrado ontem pelo presidente Jair Bolsonaro.
Como seria de esperar, fez declarações deploráveis. Apesar das provas, Bolsonaro debochou, disse que não viu o raio-X das agressões a Dilma, mais uma vez duvidou da existência de tortura no Brasil, vomitou indignidades.
Seguiram-se falas institucionais em apoio à ex-presidente.
É preciso, porém, deixar ainda mais claro que não só os que praticam crueldades contra prisioneiros subjugados têm a marca da covardia.
Também são pusilânimes aqueles que os apoiam.
Não se trata de uma canalhice qualquer, mas a maior delas.
Uma antigo aforismo pode servir de prâmetro para o tema: "A pior forma de covardia é testar o poder na fraqueza do outro".
Por essa medida, torturadores e seus apoiadores são, na verdade, os maiores covardes que podem existir. Não importa se são políticos, generais, policiais ou até mesmo presidentes da República.
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