segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Com as vitórias na Câmara e no Senado, Bolsonaro pensa (?) que escapou do impeachment

 

 

Charge do Márcio Baraldi (Arquivo Google)

Carlos Newton

Parece uma vitória espetacular o governo eleger para presidir Câmara e Senado dois parlamentares contra o impeachment. Mas na política as aparências sempre enganam. Quando um presidente da República entra em viés de queda e tenta se socorrer comprando apoio parlamentar por 30 dinheiros, já é o prenúncio de um final desastroso.

Quinta-feira, dia 28, ao discursar em Sergipe, o presidente comemorava antecipadamente a vitória. “Se Deus quiser, segunda-feira teremos o segundo homem do Executivo, o segundo homem na linha hierárquica do Brasil, eleito aqui no Nordeste pela Câmara dos Deputados, o deputado Arthur Lira”, disse ele, demonstrando sua ignorância abissal, porque Lira não estará na linha sucessória, por ser réu em ação penal.

HÁ CONTRAINDICAÇÕES – Bolsonaro também erra grosseiramente ao julgar que ficará livre do impeachment com essa manobra de comprar o apoio de deputados do baixo clero. Como diria o escritor Dias Gomes, é claro que um “rachadista juramentado” como Arthur Lira jamais colocará em pauta algum pedido de impeachment. Mas a novela não termina aí.

A eleição de Lira é como a cloroquina e tem graves contraindicações. A principal é o dano à imagem do presidente, pois a oficialização da velha política demonstra a falta de caráter de Jair Bolsonaro, depõe contra a idoneidade dos generais que o cercam e atinge também as próprias Forças Armadas.

É claro que Bolsonaro não perderá a popularidade e a aprovação dos brasileiros que o idolatram por ter livrado o país do PT. Mas essa idolatria provém de casos patológicos de radicalismo, com traços de obsessão ou mesmo de obsediação.

LIVRE DO IMPEACHMENT? – Na sua ignorância ciclópica, Bolsonaro acha que se livrou do impeachment, mas isso não é verdade. Ele pode ser afastado pelo Supremo, caso algum dos quatro inquéritos contra ele resulte em processo.

As investigações sobre “fake news” e atos antidemocráticos se interligam e se completam, porque ambos os caminhos conduzem ao gabinete do ódio, que funciona no terceiro andar do Planalto, sob comando de Carlos Bolsonaro e do hacker Tércio Arnaud, assessor especial da Presidência da República.

Os dois outros inquéritos também se interligam e se completam, porque investigam a autoconfessada tentativa de Bolsonaro interferir na Polícia Federal e a atuação da Abin na tentativa de anular inquéritos e processos contra Flávio Bolsonaro. As provas são abundantes e irrefutáveis.

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P.S. –
  Para afastar Bolsonaro, basta um dos relatores (Alexandre de Moraes ou Cármen Lúcia) pedir a abertura de processo contra o presidente. O procurador-geral não poderá contestar a ordem, sob risco de ser acusado de crime comum – prevaricação. O Supremo então pede à Câmara a abertura do processo, que precisa da aprovação de 342 deputados. Esse fato causa a completa desmoralização do presidente. Diante das provas exibidas pelo Supremo, os deputados não terão coragem de votar contra, para também não se desmoralizarem. Com Bolsonaro fora do Planalto, afastado por 180 dias, o Centrão logo transfere apoio ao presidente interino, e vida que segue, como dizia João Saldanha. (C.N.)

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