Bruno Boghossian
Estadão
Eduardo Pazuello descobriu o tamanho da “gripezinha”. Depois de uma reunião nesta quinta-feira, dia 25, o ministro da Saúde culpou as mutações do coronavírus pela situação crítica registrada em várias cidades do país. “Estamos enfrentando uma nova etapa dessa pandemia. O vírus mutado nos dá três vezes mais contaminação”, declarou.
Apesar de ocupar o cargo há nove meses, o general falou como se tivesse acabado de chegar ao gabinete. O discurso da “nova etapa” parece um esforço para pintar a tragédia continuada como uma crise imprevista. O objetivo é buscar uma rota de fuga e apagar o comportamento desastroso do governo no último ano.
MUTAÇÕES – Pazuello apontou as mutações como vilãs inesperadas, mas a microbiologista Natalia Pasternak explica que o surgimento delas era previsível. “Variantes aparecem em locais onde o vírus corre solto. Não fomos pegos de surpresa”, diz. “Elas são preocupantes, mas isso não quer dizer que a situação estava sob controle. As variantes agravam o problema.”
O ministro disse ter monitorado o surgimento dessas cepas em outros países e citou o Reino Unido, onde o governo impôs medidas de restrição assim que descobriu detalhes de uma nova mutação. Pazuello quase demonstrou espanto com a variante brasileira P1 e com o colapso de hospitais pelo país. Ele só não quis dizer que essa linhagem já é conhecida por aqui há pelo menos 40 dias.
LOGÍSTICA – Em busca de imunidade, o general afirmou que havia uma “situação de estabilidade” em novembro e que esperava manter a situação com a chegada da vacina. Três meses se passaram, e o governo não consegue enviar para o lugar certo as doses que tem. Para piorar, continua brigando com laboratórios que poderiam ampliar a oferta de imunizantes.
O general acordou atrasado. O Brasil tem uma média diária superior a 1.000 mortes há mais de 35 dias, mas Pazuello só quis reconhecer o problema agora. Segundo Pasternak, há tempo para contornar a crise: “O que não se pode fazer é jogar a culpa na variante e cruzar os braços”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Pazuello assumiu que estava obedecendo porque tinha juízo e declarou integral submissão à loucura presidencial. Agora, o ministro não só amarga com a total falta de logística e descontrole diante da pandemia, como também rubrica a sua responsabilidade no caos instaurado na Saúde de várias cidades brasileiras. O detalhe é que seus erros custam diariamente centenas de vidas. Enquanto se ocupou falando em tratamento precoce, cloroquina e gaguejando sobre a instauração de um efetivo planejamento, a situação só piorou. Agora busca desculpas para se eximir das trapalhadas imperdoáveis cometidas por essa gestão. Fica a dúvida quando os responsáveis serão punidos, a começar por Bolsonaro. (Marcelo Copelli)
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