Nelson Motta
O Globo
Elio Gaspari fez a pergunta que não quer calar: “Fora Bolsonaro. Mas para quê?”. Para nos livrarmos do pior, mais odioso e incapaz presidente da nossa história, já seria um motivo nobre. Mas também pode dar em algo, ou alguém, pior do que ele.
A estupidez e a insanidade mental são os maiores inimigos de Bolsonaro, mas ele poderia ser ainda mais maligno se fosse inteligente e preparado e com a mesma cabeça golpista, paranoica e autoritária nostálgica da ditadura. Um falso liberal econômico, nacionalista e estatizante, um falso anticorrupção que acabou com a Lava-Jato. A inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice.
DE PAI PARA FILHO – Nos livrarmos dos filhos dele também seria um bônus de alívio. Bolsonaro gosta de dizer que “não há corrupção no meu governo”. Só na sua família. E nele mesmo, desde os tempos de deputado, como um patriarca da rachadinha, quando iniciou uma bela amizade com o Queiroz, que passaria de pai para filho, como as velhas babás.
Digamos que o poder passe, pacificamente, ao general Mourão, que fez até agora o papel de “good cop” enquanto Bolsonaro ficava de “bad cop”, dando a impressão de que Mourão, além de mais inteligente e educado, era mais razoável e democrático do que o tosco Bolsonaro, que o odeia e teme, e por quem Mourão tem total desprezo.
Por ser mais inteligente e articulado, com experiência de comando e prestígio nas Forças Armadas, Mourão pode ser ainda pior que Bolsonaro, porque tem a mesma nostalgia da ditadura, o nacionalismo estatizante, o militarismo autoritário.
PODE PIORAR – Talvez na guerra cultural, que não o interessa, Mourão seja um pouco menos nefasto que Bolsonaro. Ao menos o general não tem filhos na política.
Mas, se tiver dificuldade de enfrentar crises econômicas e políticas graves, sem apoio parlamentar, tem mais condições de, “em nome da democracia e contra o comunismo”, partir para um governo de força, apoiado por militares e empresários, ou se for ameaçado pela ascensão de qualquer força política de oposição capaz de vencer a eleição.
O Brasil sempre pode piorar.
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