terça-feira, 30 de março de 2021

Ernesto Araújo fracassou porque transformou o Itamaraty num parque infantil da ultradireita

 

 

Charge do Duke (O Tempo)

Bruno Boghossian
Folha

Não era possível esperar muito de uma política externa que tinha como prioridades brigar com a China, mudar a embaixada brasileira em Israel para atender aos evangélicos, lutar contra uma conspiração globalista e conseguir um posto diplomático para o filho do presidente. O fracasso de Ernesto Araújo como chanceler não é acidente.

O Itamaraty se tornou um obstáculo no combate à pandemia porque Jair Bolsonaro instalou ali uma estrutura que não trabalha pelos interesses do país. Explorada como um aparelho de recreação da ultradireita, a diplomacia brasileira não conseguiu produzir resultados num momento de crise aguda.

PÓS–CORONAVÍRUS – No ano passado, o ministério organizou 12 seminários para discutir a conjuntura internacional “pós-coronavírus”. Em vez de debater formas de colaboração para salvar vidas e conter prejuízos econômicos, boa parte dos eventos reuniu polemistas ultraconservadores que chegavam a divulgar informações duvidosas sobre a Covid-19 e o uso de máscaras.

Quase todas as conferências davam palco para blogueiros, conspiracionistas e discípulos do ideólogo Olavo de Carvalho. Foram chamados militantes investigados por espalhar notícias falsas, um integrante da família imperial, uma juíza que se notabilizou por estimular aglomerações na pandemia e o infame assessor que fez no Senado um gesto usado por supremacistas brancos.

Ernesto é o mestre de cerimônias desse manicômio. O chanceler já disse que o país deveria se orgulhar do status de “pária internacional” produzido pela diplomacia do governo Bolsonaro.

CONGRESSO INTERVÉM – Graças a essa política externa, o Brasil se tornou ator marginal na geopolítica da pandemia e ficou no fim da fila dos insumos para a vacinação.

Sob pressão do Congresso, o governo decidiu substituir o ministro, porque o presidente do Senado avisou que a cobrança vai “além da personificação”. “O que se tem que mudar é a política externa do Brasil”, disse.

Depois de ver o resultado de trocas na Saúde e na Educação, o país já sabe de onde escorre a essência do bolsonarismo.

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