quinta-feira, 1 de abril de 2021

De ressaca, Rubem Braga se olhou ao espelho e teve inspiração para um poema

 

 

Sou um homem quieto, o que eu gosto é... Rubem BragaPaulo Peres
Poemas & Canções

Considerado o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, o capixaba Rubem Braga (1913–1990), sempre afirmou que a poesia é necessária, tanto que escreveu vários poemas, entre eles o soneto “Ao Espelho”, no qual retrata uma reflexão pessoal no inexorável passar do tempo.

AO ESPELHO
Rubem Braga

Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.

Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.

Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.

Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh, Braga envelhecido, envilecido.

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