sexta-feira, 2 de abril de 2021

Violência contra jornalistas cresce 168% em 2020 sob a liderança de Bolsonaro, aponta relatório

 

 

Ao menos 189 jornalistas e veículos de comunicação sofreram 150 ataques

Deu no O Globo

Em 2020, casos de violência não-letal a jornalistas cresceram 168% em comparação a 2019, aponta o relatório anual da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) sobre violações à liberdade de expressão.

Ofensas, agressões e intimidações representam quatro em cada cinco casos reportados. Ao menos 189 jornalistas e veículos de comunicação sofreram 150 ataques no período. E quatro em cada cinco ofensas a jornalistas ou veículos de comunicação foram feitas por políticos ou ocupantes de cargos públicos, com destaque para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e integrantes do governo.

GRAVIDADE – Segundo a Abert, as estatísticas são alarmantes, sobretudo diante de restrições como distanciamento social, adotadas no contexto da pandemia da Covid-19. Ofensas foram a forma de violência mais recorrente, representando 59 das 150 notificações no período, o que equivale a um aumento de 637,5% em comparação com 2019, quando foram registradas apenas 8 casos.

O relatório também menciona diversos casos de agressões sofridas por profissionais da comunicação, como o ocorrido em agosto de 2020 com jornalista do O Globo que, após questionar o presidente sobre cheques do ex-assessor Fabrício Queiroz à conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro no valor de R$ 89 mil, Bolsonaro afirmou que “minha vontade é eu encher a tua boca de porrada, tá? Seu safado”.

A Justiça determinou, no dia 27 de março, que o presidente Bolsonaro indenizasse a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, em R$ 20 mil por danos morais. A repórter acionou a Justiça em fevereiro de 2020, após sofrer diversos ataques de cunho sexual por Bolsonaro, que disse que ela “queria dar o furo a qualquer preço”, em referência ao depoimento dado por Hans River na CPI das Fake News. A jornalista fez uma série de reportagens sobre esquema financiado de disparos em massa de notícias falsas contra o então candidato do PT, Fernando Haddad, em 2018.

COBERTURA SUSPENSA – Depois de reincidentes casos de agressão a jornalistas feitas por Bolsonaro, os veículos de imprensa chegaram a suspender a cobertura do presidente na entrada do Palácio do Planalto, onde ele costuma parar para falar com eleitores.

O levantamento também aponta um caso inédito de sequestro de jornalista, ocorrido em outubro. Na ocasião, o repórter Romano dos Anjos, apresentador de afiliada da TV Record em Boa Vista (RR), foi rendido por três homens não identificados fora do horário de trabalho, enquanto jantava com a mulher.

Horas depois, seu veículo apareceu na BR-174 totalmente destruído após ter sido incendiado, e o jornalista só foi encontrado na manhã seguinte, na periferia rural da cidade. O relatório também cita assassinato do repórter Léo Vargas, executado por pistoleiros em Pedro Juan Callabero, na divisa com o Paraguai, em fevereiro de 2020.

ATAQUES – O número de ataques virtuais a jornalistas também seguiu alto em 2020. Foram 7.945 ataques virtuais por dia, ou seja, quase 6 agressões por minuto. As interações pejorativas foram realizadas sobretudo por perfis e sites conservadores nas redes sociais, responsáveis por cerca de 50 milhões de comentários negativos voltados à imprensa no Facebook e no Instagram, volume 29 vezes maior que postagens realizadas por contas mais ligadas à esquerda, que somaram quase 300 mil interações negativas à mídia nacional. A estatística, entretanto, aponta uma queda de quase 9% em comparação com 2019.

De acordo com o relatório, a judicialização do jornalismo segue consolidada em 2020, com 24 decisões judiciais proferidas no período, sendo apenas 8 favoráveis à imprensa e uma parcialmente acatada. Desse total, a maior parte envolve pagamento de indenização a profissionais do jornalismo. Por outro lado, as decisões contrárias envolvem a retirada de reportagens do ar e a proibição de divulgação de matérias jornalísticas.

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