
Guedes, na Economia, foi o homem das informações erradas
Pedro do Coutto
Nas edições desta sexta-feira da Folha de São Paulo e do O Globo, respectivamente, Ruy Castro e Bernardo Mello Franco focalizaram com objetividade e perfeição o verdadeiro perfil do ministro Paulo Guedes, refletindo-o como se ele estivesse em frente a um espelho e os seus tradutores iluminando a sua atuação no governo Jair Bolsonaro, ampliando ainda mais o desastre que está representando para o país.
No início, chamado ironicamente de “Posto Ipiranga”, retratando o anúncio que apresentava o posto como informativo de todos que procuravam uma resposta, Paulo Guedes, ao contrário, durante esses dois anos de mandato como ministro da Economia foi o homem das informações erradas. Errou tudo ! Inclusive no episódio da Reforma da Previdência Social, no qual anunciou que seria produzida uma economia anual de R$ 100 bilhões; o que em dez anos alcançaria R$ 1 trilhão.
DELÍRIO – Quando eu vi essa promessa no noticiário, senti imediatamente que Paulo Guedes era um delirante. Não passou muito tempo e ele esqueceu o compromisso consigo mesmo e com as finanças brasileiras. Hoje, ele destaca exatamente o contrário: a busca de recursos para fazer face aos projetos com os quais sonha e que não tem reciprocidade no plano concreto.
Seu desempenho negativo, conforme dito anteriormente, está refletido nos textos de Ruy Castro e de Bernardo Mello Franco , nesta sexta-feira. Os dois jornalistas relacionam os desastres cometidos pelo ministro da Economia e acentuam as consequências para o país. A mais abrangente está contida no descrédito do governo Bolsonaro. Paulo Guedes é um dos maiores responsáveis pelo panorama que o outono revela, neste início de maio, Dia do Trabalhador.
CRÍTICAS AOS CHINESES – O ministro simultâneo da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho, da Previdência Social e ainda por cima coordenador do projeto de privatizações das estatais não consegue acumular tantas responsabilidades que resultam em um fracasso total. Agora mesmo, há poucos dias, todos viram as afirmações do ministro sobre a China e a sua vacina.
O chanceler Carlos França teve que entrar em campo imediatamente após a agressão para suavizar a situação e manter a posição do Brasil em relação ao seu maior parceiro comercial. Agredir a China, aliás como Bolsonaro já fez, significa um supremo absurdo e um ato de intolerância para com aquele país. Agora, com Carlos França, graças a Deus, retoma-se o pragmatismo que é próprio das relações exteriores do Brasil.
A CPI E A CLOROQUINA – Reportagem de Raquel Lopes, Folha de São Paulo, numa página inteira focaliza o roteiro traçado pela CPI da Covid, chamando a atenção para as perguntas que inevitavelmente serão feitas ao general Eduardo Pazuello quanto a aquisição e a distribuição de cloroquina, incluindo a imagem do presidente da República exibindo a caixa do remédio, de acordo com cientistas e infectologistas, absolutamente inadequado para o combate ao coronavírus.
Por isso, o governo já atingido pela convocação dos ex-ministros Henrique Mandetta e Nelson Teich, atemoriza-se ainda mais com o depoimento do general Pazuello. Este, parece um personagem chave capaz de por si próprio agravar ainda mais a situação, fazendo com que o governo seja demolido pelos seus próprios erros.
A BOMBA NO RIOCENTRO – O repórter Bernardo Pasqualette assina reportagem na Folha de São Paulo desta quinta-feira, retroagindo no tempo, focalizando o atentado do Riocentro ocorrido há 40 anos. Foi em 1981, quando o capitão Wilson Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário, no carro de Machado, um Puma, levaram bombas para explodir no meio das comemorações na véspera do Dia do Trabalho.
Sucede que o destino fez com que a primeira bomba explodisse junto a Guilherme do Rosário e Wilson Machado. Rosário morreu no local. Wilson Machado teve uma ruptura que atingiu o seu intestino, mas sobreviveu. Hoje é coronel da reserva. O presidente João Figueiredo tentou punir os responsáveis, mas não conseguiu porque o segmento militar o impediu.
PROVA – A prova do atentado foi a existência de uma segunda bomba que não foi ativada. Quando explodiu a primeira, essa segunda bomba rolou para fora do Puma e ficou no chão. A reportagem da TV Globo focalizou tanto o carro quanto a segunda bomba e a matéria foi ao ar no jornal das 13h. Mas a segunda bomba destruiu completamente a versão do Exército de que Machado e Rosário foram vítimas de participantes da comemoração. Era preciso, para os radicais da direita, que a imagem fosse esquecida. E foi o que aconteceu. No Jornal Nacional, à noite, a imagem da segunda bomba foi excluída.
O Riocentro estava repleto. Entre os artistas, Chico Buarque iria se apresentar. Se as bombas explodissem pouco depois do acidente no Puma, as consequências seriam trágicas. A história do Riocentro ficará na memória do tempo.
MANOBRA – Reportagem de Danielle Brant, na Folha de São Paulo, revela os esforços que vêm sendo desenvolvidos pela deputada Bia Kicis, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, para colocar em pauta projetos que se destinam a limitar e neutralizar a ação do Supremo Tribunal Federal.
O esforço da parlamentar não resultará em nenhuma consequência concreta, porém fornece a ela a imagem do profundo temor que faz o governo tentar impedir as acusações contra ele, e assinalam tacitamente que ele próprio, o governo, sente-se sem argumentos para debater e confrontar as acusações. O temor do bolsonarismo está deixando atrás de si a própria fuga da realidade.
ALCKMIN E HUCK – Reportagem de Joelmir Tavares, Folha de São Paulo, destacando que o ex-governador Geraldo Alckmin em conversa mantida com o apresentador Luciano Huck, da TV Globo, na quinta-feira, o incentivou a manter a sua candidatura à próxima sucessão presidencial. Na minha impressão, Geraldo Alckmin quer disputar novamente o governo de São Paulo, quando deverá ter pela frente o atual governador, João Doria, buscando a reeleição.
O atual governador de São Paulo, por sua vez, já antecipou que não poderá se candidatar à Presidência porque numa polarização entre Lula e Bolsonaro não sobra espaço para qualquer outro candidato.
Quem se candidatar, evidentemente, será derrotado. Como digo sempre, é preciso não esquecer que mesmo preso e apoiando um candidato inexpressivo, como Fernando Haddad, Lula deu a ele 43% dos votos registrados nas urnas. Pedindo para si, está claro, Lula terá ainda mais na sucessão presidencial.
CONDENAÇÕES – O Supremo praticamente já consolidou a sua candidatura, apagando as condenações que pesaram sobre ele e que o levaram a ficar preso por 18 meses.
Aliás, por falar em decisão do Supremo, há comentaristas que ainda não focaram mais nitidamente no que aconteceu na Corte em relação à Lava Jato. Quando Cármen Lúcia votou pela parcialidade de Sergio Moro e Edson Fachin transferiu a decisão da Segunda Turma para o Plenário, a maioria dos ministros, incluindo o presidente Luiz Fux, conseguiu evitar que o julgamento evoluísse para anular não só as sentenças contra Lula, mas todas as sentenças de Sergio Moro que se basearam na Operação Lava Jato.
Seria um paraíso para os advogados, que no fundo também torcem para que não ocorram julgamentos definitivos transitados em julgado. O fato concreto é que o reconhecimento da parcialidade de Sergio Moro no caso singular e específico do tríplex do Guarujá afastou a perspectiva de uma anulação de todos os processos que incluem sobretudo as delações negociadas por Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro, Pedro Barusco, que devolveu US$ 95 milhões, Paulo Roberto Costa, além de vários outros. Esta é a realidade do que ocorreu e que impediu uma liberação geral.
IGPM – Matéria de Fernanda Brigatti, da Folha de São Paulo, destaca que o IGPM calculado pela Fundação Getúlio Vargas acusa a alta de 32% no período de março de 2020 a março de 2021. Trata-se do Índice Geral de Preços do mercado, o qual, vejam só o absurdo, rege a correção anual dos aluguéis residenciais.
Tal percentagem é impossível de ser arcada pela esmagadora maioria dos inquilinos. A FGV acha 32% em um ano, mas no mesmo espaço de tempo os salários foram reajustados em 0%. Não foram sequer corrigidos os 5% registrados pelo IPCA no ano passado.
Para se ter a noção do reflexo social tremendamente negativo é só lembrar que o país, em números redondos, possui 50 milhões de domicílios de todos os tipos. Desses, 15% são ocupados por locatários. O IGPM surge como um fantasma para milhões de brasileiros. Um impacto enorme.
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