quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Na poesia, guarda-se o que é preciso ser guardado, diz Antonio Cícero

 

 

Poeta Antonio Cicero é eleito imortal da Academia Brasileira de Letras |  Fora da Ordem

Cícero com a irmã Marina e o amigo Caetano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O filósofo, escritor, compositor e poeta carioca Antonio Cícero Correa de Lima, da Academia Brasileira de Letras,  pergunta por que se escreve, por que se publica e por que se declama um poema, a não ser para “guardar” o que realmente queremos.

GUARDAR
Antonio Cícero
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

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