Pedro do Coutto
Num episódio até segunda-feira desta semana inédito, o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, rebateu afirmações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro a respeito da política de preços que a estatal está colocando em prática, segundo ele afirmou, para acompanhar as oscilações de mercado, especialmente o preço internacional do barril que alcança US$ 79 e a flutuação do dólar no universo financeiro internacional com reflexo direto no sistema cambial brasileiro.
O episódio, como não poderia deixar de ser, provocou surpresa, já que, na manhã de segunda-feira, Jair Bolsonaro num evento na Caixa Econômica Federal afirmou que iria manter contato com o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, para encontrar um caminho capaz de levar a uma outra política de preços. O presidente da República ao tocar no assunto acrescentou uma ironia que a meu ver significa um humor negro. Disse ele: “nada está tão ruim que não possa piorar”.
MAIS DESGASTE – Reportagem de Dimitrius Dantas, O Globo de ontem, e reportagem de Nicola Pamplona, Folha de S. Paulo, destacam o episódio que, a meu ver, adiciona mais uma parcela de forte desgaste de Bolsonaro na opinião pública. O general Silva e Luna baseou o seu argumento no desempenho econômico e financeiro da Petrobras, de acordo com a vontade dos acionistas da empresa. Mas o interesse dos acionistas da Petrobras colide com a capacidade da população em absorver os aumentos em série e manter inalterado o nível de consumo. Não pode ser, não é possível, uma vez que a gasolina este ano teve o preço aumentado em 39%, muito acima do índice inflacionário de janeiro a setembro.
O reflexo na inflação é inevitável. O consumidor e a consumidora, como sempre no Brasil, acabam pagando a conta uma vez que não existe crédito sem débito ou débito sem crédito. Se os preços creditam a Petrobras, debitam a população na escala inflacionária. Até que ponto, pergunto, a sociedade brasileira poderá suportar os sucessivos aumentos com os seus salários estagnados e reduzidos ? Qual será o limite de piora a que se refere o presidente da República confrontada pelo presidente da Petrobras, inclusive no plano político do eleitorado, no desfecho voltado para as urnas de outubro do próximo ano ? Bolsonaro perdeu mais pontos inéditos.
REAÇÃO DO EMPRESARIADO – Numa entrevista aos repórteres Rennan Setti e Mariana Barbosa, O Globo de ontem, o empresário Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa, holding da qual faz parte o banco Itaú, focaliza e sintetiza o que os empresários brasileiros estão desejando que é um projeto pró-Brasil mais importante do que uma posição política contra Lula nas urnas de 2022. Alfredo Setubal destacou a preocupação com o baixo crescimento da economia brasileira, como reflete o desempenho do Produto Interno Bruto, perspectiva de 2021 para 2022.
Este crescimento, assinala, está estimado em cerca de 5%, porém o fato é que a base do ano passado, portanto em 2020, foi muito baixa. Assim – esclareceu – os 5% não incidem sobre um PIB de R$ 6,6 trilhões, mas sim em relação a um percentual de crescimento acentuadamente mais baixo. Existem setores, por isso, que estão calculando um avanço de 0,5% no próximo ano. “Se não fizermos nada o desastre vai permanecer. Nosso país está crescendo muito menos do que a média mundial”, destacou.
Acrescento, 0,5% é retrocesso já que a população brasileira cresce à velocidade de 1% ao ano e a renda per capita nada mais é do que a divisão do PIB pelo número de habitantes. Mas a questão principal que não será resolvida com as reformas propostas pelo ministro Paulo Guedes concentra-se no desemprego de 14,8 milhões de brasileiros e brasileiras.Com o desemprego nessa escala é impossível qualquer avanço social e qualquer reforma fiscal, pois a política fiscal depende diretamente do consumo. Com o desemprego nessa ordem e com os salários estacionados, na minha opinião, é impossível a economia brasileira se recuperar.
JUROS ESTRATOSFÉRICOS – Reportagem de Geralda Doca, Dimitrius Dantas e Pollyanna Brettas destaca que no evento de segunda-feira na presença do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, anunciou a abertura de um crédito popular entre R$ 300 e R$ 1000 para aqueles que recebem o auxílio emergencial.
Ocorre que os juros cobrados são de 3,99% ao mês, de acordo com a matéria, o que torna impossível que os que contratarem o crédito possam pagá-lo, pois 3,99% ao mês, incluindo os montantes, são juros superiores a 60% ao ano. Para se ter uma ideia, para os últimos 12 meses o IBGE aponta uma inflação de 10%. Os juros de quase 4% por 30 dias são muito mais altos do que os cobrados por exemplo pelo Itaú ou pelo Bradesco. É incrível que o governo concorde com tal escala.
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