quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Um poema afetuoso de Ribeiro Couto, criticando os “poetas de gabinete”

 

 

FOTOGRAFIA DE RIBEIRO COUTO (17,7 x 24 cm) original, co

Ribeiro Couto, fotografado em sua biblioteca

Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, diplomata, jornalista, romancista, contista e poeta paulista Rui Ribeiro de Almeida Couto (1898-1963), no poema “Discurso Afetuoso”, afirma que os poetas de gabinete não têm experiências da vida diária, pois eles apenas conhecem os textos literários.

DISCURSO AFETUOSO
Ribeiro Couto

Ó poetas de gabinete,
Que da vida sabeis apenas a lição dos livros,
Vossa poesia é um jogo de palavras.
Vossa poesia é toda feita de habilidades de estilo,
Sem a marca um pouco suja da experiência vivida.

Não sabeis de nenhuma espécie de sofrimento,
De nenhum dos aspectos sedutores do mal,
Não sabeis de nada que está realmente na vida.

Não vos inquieta o desejo de quebrar a monotonia,
A exasperada fadiga das coisas iguais,
A saborosa audácia do mau gosto.

Tudo em vós é correto, frio, sem surpresas.

Ah, tudo que sabeis é através dos livros.
Não sofreis a curiosidade viciosa das aventuras,
Nem a mágoa dos meses vividos à toa,
Nem o bocejo que a mulher tão desejada provocará um dia.
Não conheceis o remorso das devassidões
E a desvairada esperança que há num amanhecer depois da noite perdida.

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