Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo
O Globo
Varridos pela onda de renovação da eleição de 2018, caciques políticos de diferentes estados e partidos ensaiam um retorno no ano que vem. Boa parte dos veteranos estuda dar um passo atrás em relação a postos ocupados recentemente e se prepara para concorrer a deputado federal.
Entre os nomes estão ex-governadores como Roseana Sarney (MDB-MA), Fernando Pimentel (PT-MG) e Beto Richa (PSDB-PR), o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE) e o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
EUNÍCIO OLIVEIRA – Senador entre 2011 e 2018 e presidente da Casa nos dois últimos anos de mandato, Eunício atribui a sua derrota a uma ação dos irmãos Ciro e Cid Gomes, adversários dele. Os eleitos foram Cid, ex-governador, e Eduardo Girão, que defendeu o combate ao aborto e à ideologia de gênero.
Eunício enfrentou desgaste pelo inquérito baseado em delação da Odebrecht que o acusava de receber R$ 2,1 milhões em propina, caso arquivado em 2020. Ele cogita disputar governo ou Câmara.
Para unir opositores da família Gomes, cogita até aliança com o deputado Capitão Wagner (PROS), apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Eunício é próximo ao ex-presidente Lula. “Se for candidato à Câmara, vou liderar a oposição no Ceará contra o Ciro”.
ROSEANA E LINDBERGH – Integrante de uma dos clãs mais influentes na política, Roseana foi governadora do Maranhão por quatro mandatos, senadora por um e agora quer voltar a ser deputada, cargo que ocupou há 30 anos. Após renunciar ao governo em 2014 alegando problemas de saúde, a filha do ex-presidente José Sarney chegou a anunciar aposentaria da política.
— Gostei muito de ser deputada. Foi uma honra representar meu estado e quero voltar — diz Roseana.
Afetado pelo desgaste do PT e ascensão do bolsonarismo no Rio, Lindbergh ficou em quarto na corrida ao Senado em 2018. Dois anos depois, elegeu-se vereador na capital e agora quer voltar à Câmara dos Deputados.
PIMENTEL E JUCÁ – Alguns veteranos atribuem à citação em escândalos de corrupção a derrota nas urnas. É o caso de Fernando Pimentel, que quer reforçar a bancada do PT na Câmara, após perder a reeleição no pleito passado.
Ele foi alvo de delações entre 2015 e 2018, quando governou Minas Gerais, com acusações de recebimento de propina e movimentação ilegal de recursos. Sofreu quatro denúncias no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas viu sete inquéritos e uma ação penal serem arquivados.
Quem não se mostra disposto a recuar e pretende voltar ao Senado por Roraima é Romero Jucá (MDB), derrotado em 2018 por 426 votos. Seis meses antes da eleição, ele se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
BETO RICHA – Preso três vezes desde 2018, quando liderava campanha ao Senado e desistiu da candidatura, Beto Richa teve decisões favoráveis na Justiça e, segundo aliados, mira a Câmara. Alvo de oito ações, ele não tem condenações e está elegível.
Na contramão do movimento de retorno ao cenário nacional, a ex-presidente Dilma Rousseff, apesar dos apelos de setores do PT, não mostra entusiasmo em se candidatar. Em 2018, ela ficou em quarto ao concorrer ao Senado por Minas.
Estudiosos projetam ventos mais favoráveis para os veteranos em 2022. A tese é que os neófitos de 2018 ficaram na retórica contra a política tradicional e não entregaram resultados.
É UM VAIVÉM — “Em 2020, já houve mudança. Os partidos vistos de forma pejorativa em 2018 retomaram a patamares importantes” — diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociências Cognitiva e Social /Mackenzie e do Doxa/IESP, que acredita ser natural ver políticos tradicionais tentando caminhos mais fáceis.
— Após a tempestade, a ideia é entrar nas brechas, para não perder. É um cálculo que todo político faz — acrescenta a pesquisadora.
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NOTA DA RADAÇÃO DO BLOG – E a gente pensando (?) que já tinha se livrado deles, hein? Parece ser uma espécie de praga ou carma coletivo. (C.N.)
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